O campo profundo da monarquia espanhola

No mês passado e num período de menos de 10 dias o foco mediático, internacional primeiro e arrasto o estatal depois, apontou para a monarquia espanhola, colocando na agenda da propaganda infantilizadora três itens: menor de 14 anos dá um tiro de espingarda num pé, correios eletrónicos em poder do sócio de Urdangarín nos que pretensamente o monarca faz de mediador nos contratos do genríssimo, e paquidermicídio (mais um) régio de luxo pré-rotura óssea.

Por José Tubío | Rois | 08/05/2012

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 Unido à tradição jornalística espanhola sobre a chefatura do Estado, fez-me lembrar o Campo Profundo Observável do Hubble (o Hubbel Deep Field em inglês): durante 10 dias de dezembro de 1995 apontou-se com o telescópio espacial Hubble para uma pequena região escura do céu, perto da Ursa maior, tomando-se uma série de instantâneos. O objetivo da experiência era verificar que objetos e quantos se podiam detetar numa área celeste aparentemente vazia, conforme à emissão de luz de espectro visível. O resultado foi uma das imagens mais conhecidas do Hubble, na que se apreciam mais de 3.000 objetos, a imensa maioria galáxias semelhantes à nossa Via Látea que, ela sozinha, conta com 100.000 milhões de estrelas [100.000.000.000], incluindo o Sol. Isto para uma área observada equivalente a 1/24.000.000 a do total do céu. Para acabar de oferecer as dimensões há que acrescentar que a matéria (e/ou energia, que como disse o Einstein, são transformáveis uma na outra e vice-versa) visível do Universo constitui só por volta do 5% da existente: o 23% e o 72% são respetivamente matéria e energia que não se veem (escuras).

O período de observação foi análogo. Três é menos que 3.000, admito, mas é que as dimensões humanas também são ínfimas se comparadas com as celestiais.

Como quase tudo sobre os três eventos já foi tergiversado, ocultado, dissimulado, remediado, desculpado, depurado ou adiado; interessa-me só colocar em destaque 2 cousas.

A primeira, relativa ao ridículo da organização ecologista Adena, cujo presidente de honra é o monarca e que constitui um bom exemplo de “–ismo de Estado”, neste caso (pretenso) ecologismo, do que chupa (os seus dirigentes e contratados, que gente de boa vontade nunca falta) da casa do 0,7 de Fines sociales da declaração da Renda, junto de muitos outros –ismos de Estado, entre outros boa parte do sindicalismo, catolicismo, culturalismo e feminismo estatais, e como não, o partidarismo, a começar pela FAES, que é a entidade individual que mais milhões recebe (coletivamente quem mais recebe é o conjunto de entidades católicas, por volta de 80 milhões, parte em teoria destinados a esmolas: esmolas com pólvora do Rei). Uma casa da declaração nascida em boa medida para financiar a voracidade partitocrática e institucionalizar as dádivas com que realizar a compra de vontades e silêncios do ativismo cívico, narcotizando-o e fazendo-o politicamente inócuo por controlado e controlável e, de passagem, acalmar as queixas pela existência da outra casa do 0,7 (que antes era do 0,52): a da Igreja - que mantém uma relação com o ente estatal igualmente viciada e vocacionada para a obtenção de dinheiro dos impostos e não dos fins do catolicismo, pelo menos não os dos seus 2 primeiros séculos-. Como resultado, hoje podes demandar pagar um 1,4% menos de impostos do que a tua vizinha (marcar a casa serve para fazer estatística, mas os dinheiros procedem da “caixa única”, inclusive das pessoas que não marcaram nenhuma delas) e, ainda por cima, pôr toda a máquina tributária do Estado ao serviço da FAES e da Igreja que, deste jeito, evitam os gastos de cobrança de quotas e têm à sua disposição todo o sistema coercitivo estatal. Somem-se os factos de que as entidades que executam os Fines sociales são de designação estatal (de aí a sua dependência), e de que a Igreja recebe financiamento grátis obtendo a sua porção por adiantado, como as empresas pagam o IVA que vão cobrar, mas ao revés: cobra mês a mês do Estado (antes de que este cobre) e no final do ano fazem contas.

A segunda, por não sair do símil astronómico, era instar à procura do Bing Bang monárquico, para o que é preciso ir ao baú dos recordos (e não queria trazer à tona à Carinna, mas é que o lercheio do trocadilho era tentador demais): http://www.youtube.com/watch?v=sX-ZW-AgybI

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O Campo Profundo Observável do Hubble: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hubble_Deep_Field
A atividade de matar (por matar) elefantes: http://www.youtube.com/watch?v=GiQs0U_TkBM&feature=related

 

 

 

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José Tubío Rois (1979). Estudei progamação de aplicações informáticas e, como bolseiro da fundação Juana de Vega, engenharia técnica florestal e engenharia de montes. Depois licenciei-me em direito. Trabalhei, entre outras cousas, na exploração agrária familiar, na defesa contra incêndios, fui chefe de formação do centro de formação e experimentação agrária de Becerreá e, na atualidade, trabalho no ministério de administrações públicas. Sou sócio da AGAL e da AC Pró-AGLP.