Eucaliptos do país

Dous idosos conversam sobre as plantações no monte. Um deles indica que já não planta mais "eucalipto do país", senão do outro. "O nitens", afirma acenando o interlocutor, acrescentando: "come-o menos o bicho".

Por José Tubío | Compostela | 28/03/2013

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O "do país" é o Eucaliptus globulus e o estrangeiro o E. nitens. O segundo resiste algo melhor o frio e por isso se pode utilizar em terrenos de maior altitude, o que talvez contribua, mais do que o sabor ou a textura, a fazê-lo menos atrativo - embora não imune - para o seu desfolhador natural australiano, o Gonipterus scutellatus, ou gorgulho do eucalipto. Aka "o bicho". Enquanto não foi definitivamente proibida a utilização de flufenoxuron, subsidiarom-se e realizarom-se fumigações com ele para controlar a praga. Porém as autoridades do país - e as doutros - utilizam sobretudo luta biológica desde que há duas décadas começara a desfolhar o mais importante insumo do fabrico de pasta de papel, o eucalipto do país, cujas produções chegam a ultrapassar as da Tasmânia. Sementam-se ootecas da nespra Anaphes nitens que parasita os ovos do gorgulho, sem que esteja ainda provado que parasite também os de outras espécies de insectos, tal como costuma fazer em Austrália, ou concorra com a nespra... do país. Faltam os coalas, para o turismo (e a caça).
 
Por volta da expressão dos idosos não pretendia aderir ao pró ou ao antieucaliptismo pátrio, posturas por vezes difíceis de se diferenciar: com as mesmas formas do capitalismo state-runned (o que há, o que é) com o que se criou a Empresa Nacional de Celulosas e se subsidiou e fomentou a plantação de eucalipto (e na Alemanha a indústria do mobel e a madeira de qualidade de espécies autóctones), tocaria agora, mais uma vez, decidir paternalista e ilustradamente que as pessoas que plantam o monte não plantem eucaliptos. De igual jeito que se decide por eles sulfatar com Cascade, disseminar milhões de nespras autralianas, extrair ouro ou wolfram, ou o que tocar conforme aos critérios económicos, ecológicos ou estéticos de quem ganhar a batalha do acesso aos aparatos de poder. Sempre em aras do "interés general".
 
Porém, coloco em destaque a segunda parte: "do país". Defendamos como galegos os eucaliptos do país. Tal e como os castinheiros, tão enxebres, e que, segundo afirma a tradição, foram introduzidos há 2 milénios pelo império romano. O milho, a pataca, etc. cujo cultivo e consumo se faz sem constituir pecado de lesa pátria. Indicação Geográfica Protegida dos comedores de patacas. Continuemos: a arquitectura, o ensino, a cultura, a língua do país. Qual língua, qual cultura? A Cidade da Cultura. Galicia multilingüe. Lengua común. Country for old men (and women) only. O país do milhão de emigrantes. A língua da Galiza. O gallego do pueblo: Seal of Approval do Consello do País Armonioso, entidade acreditada perante o Ministerio de la Paz Lingüística. A edição galega. Os empresários do pais. Subsidiemos como galegos! As farmacêuticas e o têxtil do país. Galicia es una mina. Os (e as) trabalhadoras do país. Kontra o kapital! [Enviado desde mi dispositivo móvil]. A trata de mulheres no país. A bandeira do país. O hino do país e os queixumes dos eucaliptos do país. A gente? Quem é do país? As galegas da Galiza sul (do Norte de Portugal)? As de Coanha? As gentes das 4 províncias? Macau é do país? As fronteiras... dos ayuntamientos do país. Construindo o país desde os untamientos... ha, ha, ha. Ou, na norma brasileira: rsrsrs. Não todos os políticos são iguais... mas as Instituições sim! De provincia a nación, sem passar pela paróquia. Que país? Galicia/Galiza/Gallaécia. Os Països galegos. Comunidad Autónoma, made in USA. O CERA. Roguemos por el Voto de Nuestro Señor. Dénosle cada cuatro años. As caixas de depósitos do país. Salve! Os e as despejadas pelo capital do país. A Xunta de Galicia, tomemo-la e faremos tudo. O exército do país. Do povo. O povo como exército.
 
"Galicia somos nós: A xente e mais a fala. ¡si buscas a Galicia, en ti tes que atopa-la". Tantas como galegas e galegos. Aberta e polimórfica? Bailar samba tocada com gaita de fole vestido com kilt? Mas não pretendo que a gente baile samba vestida com kilt o dia que vaia recolher o DNI à comissaria da polícia do povo. O DNI...? O Estatuto de Autonomia. As Cortes. La soberania, preferentemente subordinada, reside en el pueblo - español -, del que emanan los poderes de Estado. O parlamento europeu. A OTAN e a ONU. Aliança cívica contra o Kurdistão.... risadas no Conselho de Segurança. 
 
99% "do país" não é do país e ademais costuma ser irreal: só existe nas mentes das e dos cidadãos, mas lá está, atacunhando-as. É um segredo que só corresponde contar numa assembleia paroquial. Galiza não existe. É só uma ideia. Escapou-me. Segundo a idealização, uma ideia espanhola. Trabalhar para o bispo. É uma pergunta: do país? E se a Galiza é um impaís... o que dizer do Reino? Dos reinos e das repúblicas. Todo por la pátria. Bota a mão à carteira, dizem os velhos. Fomos, como pessoas, construídos desde fora. Somo-lo diariamente. Capazes de matar pelo que nos inculcaram. Preparados para a prehistória. Defendamos o (que não é) nosso, contra o nosso. Solidariedade vertical, ódio horizontal. Concluo da conversa dos idosos: desconstruir-se e autoconstruir-se. Os eucaliptos também podem chegar a ser do país. Ora, sin imposiciones (nem imposições). Já não se precisam. 

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José Tubío Rois (1979). Estudei progamação de aplicações informáticas e, como bolseiro da fundação Juana de Vega, engenharia técnica florestal e engenharia de montes. Depois licenciei-me em direito. Trabalhei, entre outras cousas, na exploração agrária familiar, na defesa contra incêndios, fui chefe de formação do centro de formação e experimentação agrária de Becerreá e, na atualidade, trabalho no ministério de administrações públicas. Sou sócio da AGAL e da AC Pró-AGLP.