Espanha pretende tirar partido da catástrofe de Angrois

O grave acidente de comboio que comocionou a nossa pátria na noite de 24 de julho está a ser obscenamente empregado polo governo do PP para desviar a atençom da multicrise que abala o regime, e a corrupçom generalizada que implica diretamente Mariano Rajói e as principais figuras desse partido nos excrementos do capitalismo.

Por Carlos Morais | Compostela | 02/08/2013

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Mas também está a ser habilmente utilizado para reforçar os paradigmas simbólicos e o imaginário coletivo da opressom espanhola sobre a nossa naçom e o nosso povo.
 
De facto, som Rajói e Feijó os grandes beneficiários políticos imediatos do sinistro, pois recuperárom umha visibilizaçom pública em positivo. Mas nom só, Espanha conseguiu o impensável nas últimas décadas: ocultar que no dia 25 de julho a Galiza comemora o Dia da Pátria.
 
Contrariamente à campanha dos meios de comunicaçom da burguesia, dos aparelhos do Estado e dos partidos sistémicos, as causas do acidente da curva da Grandeira nom derivam exclusiva, nem fundamentalmente, da responsabilidade individual do maquinista do trem Alvia. Respondem diretamente ao abandono histórico a que Espanha submete as infraestruturas de transporte na Galiza, à mentalidade colonial que despreza os habitantes deste país, às políticas privatizadoras e de cortes implementadas polo monopartidarismo bicéfalo imposto na segunda restauraçom bourbónica, a podrémia dum sistema que esbanja em propaganda o que nom investe em segurança. Pois, tal como NÓS-UP denuncia, o acidente de Angrois é umha catástrofe evitável.
 
Ensaiárom um novo 11 de março
Para abordar sem imposiçons e censuras mediáticas os acontecimentos em curso, nom podemos obviar que nas primeiras horas após o acidente os herdeiros do fascismo, empoleirados em Sam Caetano e Madrid, tentárom achacar o sinistro a umha sabotagem, tal como em 1944, quando num túnel próximo à localidade oriental de Torre do Berzo, tivo lugar o mais grave acidente ferroviário da história da Galiza e da Europa. No acidente daquele fatídico 3 de janeiro, que provocou mais de meio milhar de vítimas, o franquismo acusou a guerrilha comunista. 
 
Agora foi a TVG e alguns outros meios de alienaçom que, impudicamente, sugerírom que o descarrilamento fora provocado por umha explosom vinculada com o independentismo galego. 
As autoridades espanholas vírom-se tentadas a novamente confecionar umha enorme falácia, jogando com a possibilidade de reeditar um novo 11 de março. Finalmente, os cálculos políticos inclinárom-se por descartar a tese do atentado, sendo rapidamente desmentido o disparate goebbeliano. Cumpre nom esquecer isto. 
 
Espanha é diretamente responsável
O deficiente estado e manutençom das infraestruturas ferroviarias está nas origens de ambas catástrofes.
 
À medida que vam passando os dias, som cada vez mais claras as responsabilidades do Ministério de Fomento, de ADIF (Administrador de Infraestruturas Ferroviárias), e dos diretivos da companhia de comboios espanhola Renfe, polo acidente que provocou até o momento 79 vítimas mortais e dúzias de ferid@s, numha linha inaugurada em dezembro de 2011, sendo ministro de Fomento o dirigente do PSOE José Blanco.
 
Tentando linchar o maquinista, acusando-o de ser o único e exclusivo responsável, procuram ocultar os erros na construçom desta via, a ausência de operatividade do sistema ERTMS entre Ourense e Compostela, de balizas suficientes, de sinalizaçom de velocidade, os desacertos no acompanhamento do comboio polo centro de controlo e operaçons, a precariedade laboral e as conseqüências das políticas neoliberais de privatizaçons e austeridade. Mas também, e basicamente, evitar danificar a imagem de Espanha nos concursos internacionais de construçom de linhas de alta velocidade.
 
Por este motivo, convertem o maquinista no cabeça de turco de um conjunto concatenado de erros e abandonos com conseqüências claramente criminosas, às quais Rajói, como presidente do Governo espanhol, Ana Pastor, como ministra de Fomento, Julio Gómez-Pomar, como presidente de Renfe, e Gonzalo Ferre, como presidente de ADIF, nom podem abstrair-se, nem eludir responsabilidades.
 
Espanha tem demonstrado historicamente que carece de escrúpulos para manipular emoçons, para instrumentalizar a dor de um povo, para alterar a seu favor desastres provocados pola sua negligência.  
 
O sensacionalismo e amarelismo nojento com que a prática totalidade dos meios de (des)informaçom espanhóis estám a tratar o acidente, além de procurar um incremento de venda de jornais e revalorizaçom das publicidades, age como um magnífico e imprevisto anestésico estival.
 
Mas também é útil para a cada vez mais urgente lavagem de cara de umha monarquia deslegitimida que assiste à zona zero do acidente, o hospital, ao funeral, como estrelas em declínio de um reality show.
 
A Espanha que ocupava policialmente a zona velha de Compostela, a que à mesma hora onde dúzias de pessoas necessitavam auxílio mantinha destinados centenas de efetivos das forças de ocupaçom blindando a entrada de independentistas no coraçom da nossa capital, a Espanha que prosseguiu com o operativo de controlo empregando helicópteros policiais para filmar as mobilizaçons patrióticas de 24 de julho, que aplicava um estado de exceçom seletivo, é a que agora utiliza, e manipula sem rubor algum, o acidente para ocultar as suas responsabilidades diretas na catástrofe, transmitindo umha cínica solidariedade.
 
A Espanha que fechou pisos inteiros e quirófanos dos hospitáis compostelanos e que nom podia atender em condiçons @s ferid@s, que carecia de helicópteros de emergências suficientes, que despedira médicos e pessoal sanitário, a que privatizara corpos de bombeiros que abandonárom a zona do desastre horas antes de finalizar os labores de resgate, a que demorou mais de duas horas em aplicar o nivel 2, é a que deve ser julgada e condenada pola Galiza.
 
Novamente, constatamos como Espanha é a nossa ruína, como a carência de soberania nacional provoca sofrimento no nosso povo, como é necessário e urgente que a Galiza recupere a independência nacional.
 
A solidariedade com as vítimas, familiares e amizades do comboio acidentado provocou que a esquerda independentista e socialista optasse por suspender os atos reivindicativos do Dia da Pátria. Por isso BRIGA anulou o IX concerto da Jornada de Rebeliom Juvenil e NÓS-UP decidiu suspender a manifestaçom nacional contra Espanha e a UE e pola independência. Foi um 25 de julho triste e silencioso!
 
Ainda assim, estivemos nas concentraçons convocadas às 20.40 horas nas principais estaçons de comboio galegas para transmitir a nossa dor com esta catástrofe e para denunciar as mentiras do capitalismo espanhol. 
 
Angrois soma umha razom mais para ilegalizar o Partido Popular, para exigir a demissom de Rajói e Feijó, para que o povo galego avance na via da ruptura democrática e dum processo constituinte que nos conduza à liberdade e à emancipaçom.
 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.