UPG, meio século de luzes e sombras

Numha simples olhadela à exposiçom que comemora o 50 aniversário da fundaçom da UPG é verificável que a mensagem preponderante que a entidade organizadora do evento quer transmitir é o orgulho, a continuidade e a importáncia histórica de ser a primeira força política patriótica constituida após o holocausto galego posterior a 1936. Eis sem lugar a dúvidas a grande achega teórico-prática que a UPG tem feito à naçom galega como sujeito político: a sua constituiçom e constáncia na defesa intransigente da auto-organizaçom e do quadro galego de luita.

Por Carlos Morais | Compostela | 20/01/2015

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Em toda a orientaçom, conteúdos e linha gráfica da exposiçom “A Naçom galega em pé”, instalada no Colégio Fonseca da USC da capital da Galiza, prevalece a fasquia nacionalista sobre a de classe. Embora incida no cardinal papel da UPG na constituiçom do sindicalismo galego, como das entidades sociais no ámbito cultural, estudantil, camponês, feminista, que desde finais dos anos sessenta foi tecendo a organizaçom fundada por pouco mais de meia dúzia de pessoas há agora meio século, numha reuniom nas redondezas de Compostela a 25 de julho de 1964.
 
A UPG como “partido comunista patriótico” é um elemento mais, claramente subsidiário da cosmovisom nacionalista, que submete a luita de classes à nacional, seguindo a lógica doutrinal nacional-popular. 
 
Já temos refletido sobre o ecleticismo e a indifiniçom dos “Dez pontos fundacionais” no terreno nacional, que goram umha UPG independentista; já temos denunciado as carências congénitas do seu ADN político e o imenso dano provocado ao projeto de libertaçom nacional durante décadas pola criaçom dumha “complexada e acovardada doutrina nacional a meio caminho entre um autonomismo radical que defende sem paliativos o direito de autodeterminaçom, e umha irracional patologia anti-independentista”.
 
Porém, nesta ocasiom queremos abordar umha incógnita derivada das mudanças na sua linha política acordadas na Conferência Nacional que a UPG realiza em fevereiro de 2013. 
Salvando o período 1975-77, no qual sim mantivo umha linha discursiva independentista, os trinta anos posteriores caraterizárom-se –salvo a exceçom da sua rama juvenil na primeira metade dos oitenta-, por umha depuraçom integral desta tese e um ativo combate ao movimento independentista em base a delirantes desqualificaçons gratuitas e justificaçons absurdas de ligar a reclamaçom da independência nacional com “provocaçom” esquerdista e espanholista. Artigos, discursos e todo o tipo de textos de dirigentes e da própria UPG estám ao acesso público nas hemerotecas e na rede para confirmar a veracidade desta afirmaçom. 
Os acordos dessa Conferência Nacional facilitárom a viragem soberanista e anti-imperialista do BNG na XIV Assembleia Nacional do mês seguinte e a posterior abertura do que semelhava um novo clima de diálogo, respeito e entendimento entre as forças políticas e sociais da esquerda patriótica. 
 
Nem na altura, e menos ainda agora, podemos desconsiderar que a nova atmósfera a que se incorporava o nacionalismo maioritário emanava fundamentalmente de umha crise orgánica que se superpunha a outras prévias, e que por sua vez derivava da impossibilidade de cortar a grave hemorragia eleitoral iniciada em 2001, e que nom tocou fundo tal como se constatou há poucos meses e teimam em confirmar recentes inquéritos.
 
Se bem é certo que nos quase dous últimos anos a UPG tem empregado e agitado mais a reclamaçom de independência no seu relato e interpretaçom da situaçom galega que no período que abrange o assassinato de Reboiras e o ano 2013, a realidade é teimosa e constata as enormes limitaçons no ámbito retórico de um discurso que nom convence nem assume umha boa parte da sua militáncia e quadros.
Já nom podemos coincidir com a leitura de allegro ma non troppo a que nos referiamos há mais de ano e meio pois a realidade verifica umha carência de firmeza à hora de defender e aplicar a linha independentista.
 
À medida que a cisom beirista foi perdendo paulatinamente o vigor inicial por mor das contradiçons sobre a política de alianças com o espanholismo, polos abandonos individuais e as rupturas coletivas por tanta incoerência, pola competência letal de Podemos como produto mais atrativo que o projeto de AGE e, portanto, foi desaparecendo na direçom da UPG o pánico pola criaçom e desenvolvimento de Anova, a viragem independentista ficou reduzida aos discursos nos atos rituais e aos artigos de opiniom.
 
Se nom se consolidou Galiza pola Soberania (GpS) como iniciativa suprapartidária e abrangente, fruto de um acordo político de meses de consensos, foi porque estava concebida como umha ferramenta conjuntural enquadrada no taticismo que carateriza umha corrente política tam versátil como oportunista, incapaz de superar e despreender-se das limitaçons congénitas.
 
Há indícios suficientes para interpretar que a unidade de açom com a esquerda independentista implementada de forma esporádica durante o ano passado, que serviu para lavar a cara, para injetar credibilidade num projeto e nuns dirigentes desprestigiados, para maquilhar e superar umha década de políticas autonomistas e neoliberais que facilitárom a espanholizaçom da Pátria e desarmárom a capacidade de luita do povo trabalhador, é agora basicamente concebida como um aditivo subsidiário reduzido a processos eleitorais.
Nom há ruptura de relaçons, mas tampouco há interesse real em mantê-las mais além do ámbito puramente diplomático. A ausência de vontade de chegar a um acordo em chave de país nas eleiçons europeias de maio, nas candidaturas municipais da vindoura primavera, ou recentemente na denúncia da Constituiçom espanhola 6 dezembro, constata que a UPG que presume de ser umha força que atinge a madurez do meio século de trajetória, nom aprendeu as liçons e os erros cometidos neste longo período. 
 
A pulsom pactista segue mui viva no seu interior. A cultura conciliadora marca os ritmos de umha força que, embora elabore um diagnóstico rigoroso e lúcido do presente, é incapaz de aplicar as medidas imprescindíveis para avançar estrategicamente, porque o taticismo hipoteca e freia qualquer passo dado na direçom correta. Esta carência de audácia e vontade real de superar o eleitoralismo nom se pode dissociar das causas que estám a levar o projeto nacional galego à sua derrota estratégica. 
 
A UPG nom se define com claridom frente à nova transiçom que setores do esgotado regime espanhol tentam promover para -igual que na década de setenta do século passado-, perpetuar o modelo vigorante do capitalismo espanhol, e salvar a agonizante arquitetura jurídico-política imposta no pós-franquismo, frente à desafetaçom generalizada de cada vez maiores setores populares.
 
Contradiçons e disputas internas impossibilitam umha rotunda negativa do nacionalismo galego à reforma constitucional e ao novo pacto que reclama o gram capital para garantir a unidade indivísível de Espanha mediante leves concessons às burguesias basca e catalá e mudanças cosméticas que neutralizem o ascenso do malestar popular. A ambigüidade calculada continua a ser a receita do dia a dia para tentar recompor desesperadamente o BNG anterior à ruptura, e desta forma procurar paulatinamente atingir as quotas eleitorais de 1997.
O fantasma do quintanismo segue ativo no nacionalismo e, portanto, a viragem independentista e de esquerda aprovada na Conferência Nacional continua a aplicar-se contraditoriamente entre decisons espasmódicas que provocam que os princípios aprovados que gerárom tanta expetaçom nom dem superado o estado da interinidade e provisoriedade próprios do taticismo.
 
A UPG aferra-se em impossibilitar as mudanças imprescindíveis no campo da esquerda patriótica que permitam a recomposiçom do conjunto do nacionalismo e do independentismo galego. Opta por perpetuar a toda custa um BNG que cada vez maiores setores sociais ativos nas luitas populares e presentes nos movimentos sociais identificam com umha sigla mais de um regime que há que transformar. 
 
Em vez de facilitar um processo aberto e horizontal de refundaçom integral da esquerda nacional que implique necessariamente a dissoluçom das organizaçons políticas de massas do nacionalismo e da esquerda independentista, e umha parcial restruturaçom das entidades setoriais, opta por marcar distáncias e evitar confluências, primando por tender pontes ao galeguismo entreguista.
 
O tempo vai respondendo às múltiplas perguntas e dúvidas da militáncia galega. As sólidas desconfianças fundadas em décadas de desencontros nom se dissipárom, estám profundamente ativas entre aquelas e aqueles que temos historicamente defendido a confluência, umha ampla aliança em base a um programa avançado.
 
Nos dias de hoje nom podemos responder com clareza às dúvidas e incógnitas que fazíamos coletivamente há perto de dous anos, mas sim temos mais certezas e factos constatáveis para o pessimismo objetivo, embora nom para o derrotismo.
 
A reversibilidade das teses da Conferência Nacional é um facto presente, cada dia mais evidente nas decisons políticas de fundo que a UPG vai adotando ou facilitando por meio do BNG.
 
Se bem é certo que neste último biénio umha nova geraçom militante do nacionalismo foi educada na cultura soberanista, que fôrom tecidas muitas cumplicidades entre as bases militantes, também nom é menos certo que boa parte dos quadros históricos, basicamente os que detenhem responsabilidades institucionais, mantenhem reticências e mesmo questionam a linha aprovada, provocando assim a impossibilidade de aplicaçom.
 
Gostavamos de poder afirmar com satisfaçom que neste 50 aniversário que saudamos, a UPG deu por enterrada a patologia anti-independnetista praticada desde a segunda metade dos setenta. Mas a realidade impossibilita que podamos afirmá-lo, porque a UPG tem retrocedido à hora de aplicar a viragem. 
 
Mais tampouco desejamos que isso aconteça, porque para além das profundas diferenças táticas e estratégicas com a UPG -as quais provocárom em 1996 a conformaçom do novo comunismo patriótico representado por Primeira Linha-, o fracasso das achegas plasmadas nos 10 pontos da reuniom da ponte da Rocha no verao de 1964 sobre as quais se edificou a doutrina e programa, facilitaria a derrota do projeto nacional galego na esfera política.
 
Reconhecendo que o primeiro baluarte defensivo da Pátria está conformado assimetricamente polo nacionalismo e o independentismo, nom duvidamos que a queda do primeiro contingente -mais numeroso e com maior implantaçom social-, no sentido de renunciar novamente à contraditória linha soberanista acordada na Assembleia de Ámio, capitulando por um punhado de deputados em ilegítimas instituiçons alheias, teria conseqüências catastróficas.
 
E se bem todo aparente que nom há motivos para umha renúncia, os factos constatárom que nengumha escola e corrente político-social, por muito vigor que transmitir, tem assegurada a sua irreversabilidade doutrinal. Do contrário, como entender que as cisons políticas independentistas que quebrárom com a UPG em 1976/77, 1986/87 e 2007 defendam e apliquem a unidade com o espanholismo que deu lugar a constituiçom de Anova e de AGE, incumprindo o princípio de auto-organizaçom?
 
A solidez doutrinal de umha força política nom se garante nos textos e programas, salvo por umha coerente açom teórico-prática. O caso galego nom é umha exceçom. Muitas vezes, os que mais berram som os mais inofensivos. E os mais fanatizados na defesa dos princípios os primeiros em incumpri-los.
 
A Revoluçom Galega exige grandes doses de generosidade para alterar e gorar o plano de aniquilaçom da Galiza a que Espanha nos conduz. A UPG tem o dever histórico de agir com responsabilidade patriótica. Esta seria a sua melhor contribuiçom neste 50 aniversário.
 

1.Carlos Morais, “Crise ou crises no nacionalismo galego”, Abrente 39 (Janeiro-março 2006).

2.Carlos Morais, “Quadragésimo aniversário da UPG: olhar marxista às suas limitaçons congénitas”, Abrente 30 (Outubro-dezembro de 2003).

3.Carlos Morais, “Dúvidas e incógnitas sem resposta sobre a unidade soberanista”, Abrente 69 (Julho-setembro de 2013).

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.