NÓS-UP, luzes e sombras de umha singular experiência da que apreendermos

A fulminante e imprevista dissoluçom de NÓS-UP nom foi umha decisom adotada por consenso, fruto de um dilatado e sossegado processo de reflexom horizontal entre a militáncia. A deliberada e irresponsável implosom provocada na organizaçom fundada em junho de 2001 foi precipitada, e nom responde a razons políticas e organizativas que assim o justificassem. Porém, agora nom vou aprofundar nisto e sim em realizar umha avaliaçom de urgência, quebrando o prudencial silêncio que até o momento mantivem.

Por Carlos Morais | Compostela | 16/07/2015

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Os seus quase três lustros de intervençom estám carregados de luzes e sombras. Nom sou alheio aos seus sucessos e muito menos aos seus fracassos e incapacidades na vertebraçom do novo independentismo superador do localismo e marginalidade no que estava instalado.
 
Os êxitos tenhem múltiplas paternidades e os fracassos som orfos. Assumo as minhas indiscutíveis responsabilidades como parte da sua direçom, salvo as da sua liquidaçom. Com orgulho e a consciência tranquila nom renego da sua impronta e do legado que a dia de hoje tingiu umha parte considerável do tecido patriótico galego.
 
A inexperiência política, as carências na formaçom ideológica, as dispares trajetórias e referentes ideológicos, a juventude de boa parte das pessoas que participamos na fundaçom, fôrom algumhas das causas que impossibilitárom a sua expansom e referencialidade.
 
Som múltiplos os exemplos dos graves erros cometidos pola bulímia ideológica, pola carência de flexibilidade tática, pola incapacidade de afinar e dotar-se dumha acertada linha de massas. As dificuldades para gerir adequadamente os “tempos políticos”, por estabelecer umha assimétrica política de alianças, por assumir e conviver com naturalidade contradiçons, para compreender as mudanças conjunturais e as tendências que anunciavam umha mudança de ciclo, provocárom erros que impossibilitárom estabelecer diálogo e interlocuçom com os contornos próximos, e portanto a acumulaçom de forças que acabárom minando a confiança na viabilidade do projeto entre umha considerável parte da militáncia.
 
Derivas esquerdistas impossibilitárom a implementaçom dos acertados diagnósticos na caraterizaçom das mudanças e dos fenómenos políticos e sociais que transitárom do nosso nascimento no fraguismo e aznarismo à etapa de Zapatero até Rajói, passando polo efémero governo bipartido PSOE-BNG, da artificial etapa da expansom e acumulaçom do capitalismo especulativo e de casino à profunda crise atual do modelo neoliberal.
 
Porém, seria injusto só incidir nos erros e carências de 14 anos de insubornável luita ao serviço da Galiza e das suas maiorias sociais sempre desede umha ótica anticapitalista. As modestas dimensons atingidas por NÓS-UP nom devem impedir avaliar a importáncia dos seus contributos à esquerda patriótica e à construçom nacional, tanto no ámbito da renovaçom discursiva e teórica, como na formas e métodos de intervir e interatuar. 
 
Definimos com claridom ao povo trabalhador como sujeito da mudança; aperfeiçoamos a transversalidade discursiva dos três objetivos estratégicos que deve perseguir umha organizaçom revolucionária -que já umha década antes começou a implementar APU-, reivindicando umha Pátria livre, vermelha e lilás, e que hoje no plano teórico semelham estarem assumidos por quase todas as forças galegas.
A defesa intransigente do princípio de auto-organizaçom foi combinada com umha coerente prática internacionalista com processos que naquela altura estavam estigmatizados e que polas suas mutaçons hoje fascinam a quem nos isolavam e condenavam ao ostracismo.
 
NÓS-UP incorporou e popularizou a ortografia reintegracionista no movimento popular, naquela altura refugiada na torre de marfim das academias e gabinetes; foi pioneira na denúncia do obsceno esbajamento que supunha as obras da Cidade da Cultura; na retirada pública mediante exemplar açom direta de milhares de símbolos fascistas, quebrando um dos tabus da transiçom espanhola; na recuperaçom e elaboraçom do imaginário nacional divulgando o escudo desenhado por Castelao e elaborando o único mapa com o território completo da Galiza; contribuiu na articulaçom e impulso do novo tecido associativo dos espaços autogeridos dos centros sociais; facilitou a recuperaçom da combatividade nas luitas populares; derrotou nas ruas o assimilacionsimo espanholista de “Galicia Bilingüe”; denunciou a deriva regionalista e centrista do nacionalismo facilitando o abandono da via estatutária e a ainda contraditória recuperaçom do soberanismo; combateu sem trégua os discursos patologicamente anti-independentistas, socializando que os problemas do povo tabalhador galego estám indisoluvelmente ligados a dotar-nos de um Estado galego, relato hoje claramente hegemónico nas novas geraçons patrióticas; elaborou o programa tático da esquerda independentista, plenamente vigente.
 
Realizou grandes esforços por agir no concreto, intervindo no ámbito municipal, dotando ao conjunto do independentismo de um sólido e renovado corpus teórico-prático. Foi umha força com um marcado espírito transgressor.
 
NÓS-UP nasceu numha etapa de expansom do movimento de massas, onde as luitas sociais estavam hegemonizadas por um nacionalismo impermeável a construir espaços de confluência, obsessionado com aniquilar-nos. Porém, demonstramos que sim era possível articular um espaço de luita sem submetimento ao taticismo eleitoral, autónomo da lógica que nas duas décadas anteriores convertera o independentismo num apêndice radicalizado do nacionalismo, que hipotecara o seu desenvolvimento por conservar intacto esse letal cordom umbilical. 
A pedagogia do exemplo caraterizou umha militáncia forjada no compromisso altruista de admirável entrega patriótica e de classe, sem procurar acomodos institucionais, guiada por princípios, coragem e razons.
 
No 40 aniversário do assassinato de Moncho Reboiras a situaçom do projeto nacional galego é mais que preocupante. A dissoluçom da Unidade Popular é consequência da crise da naçom galega, mas também contribui a agravá-la.
 
As convulsons e turbulências nas que leva instalada a esquerda nacionalista e independentista passam por umha reconfiguraçom integral do campo que representamos. Sem umha refundaçom em base a um programa avançado, respeitando o pluralismo ideológico num espaço político e social unitário, Galiza está lamentavelmente condenada a esmorecer. 
 
Organicamente hoje o independentismo está mui debilitado pola sua fragmentaçom, mas socialmente goza de relativa vitalidade. O seu legado e contributos som imprescindíveis para evitarmos a catástrofe a qual nos conduz Espanha e as suas estratégias. 
Nom é hora de baixar a reixa e sim de realizar todas as mudanças imprescindíveis para sermos úteis a Galiza e as suas maiorias exploradas e empobrecidas.
 
Nesta tarefa coincidiremos muita gente. Nom só estamos condenados a entender-nos, queremos fazé-lo com generosidade e respeito. A paciência é umha virtude revolucionária.
 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.