Saturnização da esquerda filoespanholista galega

Saturno, deus romano da geração, dissolução, abundância, riqueza, agricultura, renovação e libertação, corresponde ao grego Cronos, símbolo do tempo, do eterno nascer e perecer das cousas.

Por Ramón Varela | Ferrol | 24/05/2016

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Filho benjamim do deus romano Caelus, Céu, e da deusa Tellus, Gáia, Terra, que correspondia á antiga deusa Cibeles, dominou ao seu pai e mutilou-o no momento em que se acercava a sua esposa para engendrar de novo. Uma vez destronado o seu pai, fez um pacto com o seu irmão primogênito Titão pelo qual poderia reinar, mas sempre que não deixasse descendência, com a finalidade de que o reino ficasse na linha do morgado. Saturno casou com Ops (Rea) com a qual teve vários filhos, mas com a finalidade de não ser despossuído do seu trono devorava-os enquanto nasciam. Ops, para evitar a morte dos seus filhos, oculta a Júpíter, Neptuno e Plutão, e só amostrou a sua filha Juno. Conhecedor o engano, Titão encarcera a Saturno e a Ops. Uma vez adulto, Júpíter fez-lhe a guerra ao seu tio Titão, destrona-o e devolve-lhe o reino ao seu pai. Saturno intenta matar a Júpiter, mas foi derrotado por este, que se apoderou do Céu.  
 
Quando aqui falamos de esquerda filoespanholista, referimo-nos aos ao conglomerado híbrido formado pelas formações que conformam o que neste momento se conhece como En Mareas, com um nome em espanhol como deve ser e como faria toda pessoa sensata e de sentido comum. É filoespanholista porque dos três grupos que a integram, dous são claramente espanholistas e sem interesse nenhum em praticar uma política proativa favorável aos interesses do povo galego. Isto não é um reproche para as citadas organizações, senão uma constatação do que cada um é, e é evidente que cada organização política tem a sua estrutura, natureza  e dinâmica próprias de acordo com as quais, se quer ser coerente, tem que atuar. O que é Anova eles terão que dizê-lo, mas não devem esquecer que, como diz o adágio popular, “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, e também o que disse Jesus de Nazaré: “Pelas suas obras, conhecê-los-eis”. Dizemos neste momento porque este conglomerado tem já data de caducidade. 
 
Os discursos do Sr. Beiras amostram nas últimas datas uma grande simpatia pelas esquerdas européias das que nos lecionou a propósito da eleições ao Parlamento europeu, e pelas esquerdas espanholas, com as que contraiu um matrimônio após abandonar o seu lar paterno que era o BNG por considerar que são as predestinadas a redimir aos indígenas galaicos, que tanta falta nos faz. Poderia e deveria explicar-nos quais são esses supostos benefícios que a Galiza extraiu do alterne com as esquerdas da sua candidata em Bruxelas. A respeito do alterne com as esquerdas espanholas até o momento, o povo galego só conquistou um retrocesso enorme, de tal modo que hoje a Galiza tem menos consideração no Estado espanhol que Valência, com uns partidos nacionalistas que nasceram ontem. Como dizíamos num artigo anterior: “sem grupo próprio, sem primárias e com minifundismo político”. Este é o panorama e já lhe podemos retrucar a Beiras e aos seus: “Assim è como se destrói um país e a sua auto-estima”.
 
O Sr. Beiras decide matar ao seu pai, e entendo por tal, como é óvio, não o seu pai biológico senão ideológico, que era o seu admirado Garcia Sabell e o seu entorno pinheirista, com um galeguismo mui sui generis, que o único que fizeram foi construir Realidade Galega para tratar galeguizar aos partidos espanholistas, terminando por converter-se no setor galeguista do PSOE. Uma vez consumado o parricídio estabelece um matrimônio que parecia sólido e definitivo com a AN-PG, UPG, PSG e independentes, para dar nascimento, a uma criatura denominada BNG, mas o matrimônio esfarelou-se enquanto o grande vendedor do produto, o Sr. Beiras, que estivera a ponto de converter-se no Presidente de Galiza, após uma dura campanha dos mídia autóctones na sua contra, começou a recuar eleitoralmente, provocando o seu despido democrático, mas prematuro, improcedente e sem um recâmbio com dotes similares de marketing, embora com carências claras em organização e análise crítica da realidade. A partir desse momento, a política nacionalista converteu-se num campo de batalha na luta pelo poder conseguir a pátria potestade da criatura, além de ódios e ressentimentos, dos que o povo galego foi o principal prejudicado.
 
Em 2012, a formação do Sr. Beiras decide promover um novo matrimônio, esta vez com a líder dum partido espanholista, Yolanda Díaz, de cuja união nasce AGE (Alternativa Galega de Esquerdas), ressuscitando assim o caudilho galaico a velha pretensão de Realidade Galega de cristianizar os partidos estatais para convertê-los em adaís do nacionalismo e do seu direito de autodeterminação. Parece que a experiência soviética não foi suficiente para evidenciar que uma cousa é reconhecer um direito e outra mui distinta efetivá-lo. Tampouco basta o que pregoa em teoria a Constituição Espanhola sobre os direitos e liberdade, por exemplo, o direito ao trabalho, para terminar conculcando-o a diário na prática. Parecia que políticos curtidos e de longa experiência deveriam estar vacinados contra a ingenuidade política, mas parece que não é assim. A criatura durou bem pouco e os seus pais devoraram-na ao pouco de nascer para que não amostrasse ao mundo as suas imperfeições. Como em todas as cousas que passam a melhor vida, a gente decide não pedir-lhe responsabilidades a somente ensalçar ritualmente as suas imaginadas virtudes, e silenciar os seus defeitos, para grande alegria dos seus progenitores.
 
Nas vésperas das eleições de 2015, o matrimônio decide unir-se com Podemos e agrupações cidadãs, para procriar a criatura Em Marea, que teve um batismo rutilante nas eleições do 20D, mas de seguida se viu que era em realidade ouropel pois a criatura amostra defeitos que a fazem inviável, e os pais já decidiram devorá-lo e só silenciar as suas imperfeições para poder mantê-lo com vida artificialmente até as próximas eleições do 26J deste ano 2016. O problema é que os progenitores não se põem de acordo, como lhe aconteceu com AGE, para dar-lhe a alimentação e formação adequadas, e, como é normal, a criatura morre. Não lhe pidamos tampouco responsabilidades a esta expirante criatura sobre cousas de cretinos, Rubén dixit, como não lograr ter um grupo parlamentar próprio em Madrid, silenciar os problemas do povo galego, ou semelhantes. Há que ser respeitoso com as pessoas com um prognóstico tão pessimista e já com data de falecimento anunciado. Há que manter sempre um mínimo de bom gosto e sensibilidade. Agora já têm que reconhecer ante a cidadania que a criatura tampouco vai superar a prova do grupo parlamentar que tanto pregoaram como justificação do seu parto dos montes da fábula de Esopo. Anova até ameaçou com tomar medidas se não se criava participava como partido instrumental para ter opções a ter grupo parlamentar, mas onde há patrão não manda marinheiro. Que felizes somos por poder presenciar um fenômeno poucas vezes dado contemplar aos humanos, como é a doma e castração dum leão, capaz de rugir com verbo altitonante ante as multidões, petar na mesa de presidentes e deputados para pô-los firmes e sacar zapatos em parlamentos, e agora ei-lo em presença de todo um povo: orelhas agachas, sem discurso político, humilhado ante os seus e, ao tempo que come o pó, limitando-se a dizer: não há tempo,... Já por espetáculos desta índole valia a pena uma e mil vezes viver num povo do Noroeste peninsular. 
   
Como fruto das infidelidade dos pais de Em Marea, surgiram filhos a eito: Mareas em Común, Mareas municipalistas, Mareas vivas, Marea Atlântica, Marea de Ourense, e outras que seria mui tedioso enumerar. Alguns mau-pensados dizem que estão a marear a gente, mas são pessoas seguramente decepcionadas pelas suas escassas ou nulas dotes reprodutivas. Agora do que se trata é de que os pais de Em Marea não se põem de acordo sobre quem devem ser os pais da nova criatura que se anuncia, pois como eles já vão velhos decidem que converter-se em avós e que sejam uma das criaturas as que alumiem o novo ser que todos estamos expectantes a receber com o alvoroço e as alvíssaras que se merece uma nova criança numa etapa em que se necessita tanto incrementar a natalidade. Que pena que não existam os tão famosos e cacarejados prêmios á natalidade que repartia o grande Timoneiro, para que pais tão prolíficos vissem reconhecido o seu esforço procriador. 
 
Há, porém, uma diferença notória entre estas devorações e as do deus Saturno, pois nas atuais não existe nenhuma piedosa Ops, senão que participam nelas de mútuo acordo tanto o pai como a mãe, e tal vez também, como nas anteriores, avós, irmãos, tios, sobrinhos e demais família, e quiçá não se salve nenhuma destas infelizes criaturas. Ou haverá um hercúleo parente que logre ressuscitá-las?.
 

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