Por Bernardo Ramírez | Lisboa | 07/02/2010
Durante algum tempo essa tecnologia, e mais concretamente as redes sociais (como o Facebook, o Twitter, o Hi5 e outros), eram vistos como verdadeiros monstros. Corruptores de jovens mentes, destruidores de carácter e deturpadores da natural e saudável vida [não] sexual dos jovens. Para os mais velhos, as redes sociais, os telemóveis, as consolas e toda a tecnologia estranha e misteriosa representava um mundo incompreensível e negro.
Sempre foi assim. Há milhares de anos atrás, aquando do surgimento do papel, imagino os velhos a dizerem que a cultura popular se ia perder, que com o papel as pessoas iam deixar de usar a memória e de ter a necessidade de aprender uns com os outros. E que em vez de se juntarem todos em volta do lume a falarem da vida, cada um iria estar a ler o seu livro. E certamente essa foi a consequência em muitos casos. No entanto, ainda hoje há espaço para a tradição oral e para os livros.
A evolução é irreversível, já o disse muitas vezes, ou se preferirem a mudança. Essa é verdadeiramente a única constante da vida. Tudo muda.
Agora em Portugal, principalmente nos últimos dois anos, têm-se assistido a um crescimento vertiginoso das redes sociais. Há cerca de dois anos atrás começou o boom do Twitter e alguns meses mais tarde começava a surgir o Facebook em força. Naturalmente, dentro das empresas, as pessoas (agora permanentemente ligadas à Internet) começaram a recorrer a essas redes e a socializar nelas.
Claro que algumas empresas mais conservadoras e alguns gestores mais antiquados continuavam e continuam a ver isso como um empecilho à produtividade, uma distracção e um custo inútil. Muitos funcionários são recriminados por falarem no MSN, por escreverem no Facebook, ou por mandarem Twitts sobre acontecimentos e coisas do dia a dia.
Por outro lado, os gestores mais inteligentes desenvolvem redes sociais que incluem os funcionários, motivam os funcionários a usarem-nas e a partilharem o seu trabalho nessas mesmas redes. As histórias de sucesso são inúmeras. Clientes que encontram empresas, empresas que encontram parceiros, empresas que encontram visibilidade quando antes não tinham.
Hoje, se uma empresa precisa de algo pode colocar a sua questão numa rede social, para imediatamente ter acesso a muitas possibilidades e, por vezes, até contacto directo com pessoas que podem resolver o seu problema.
A euforia do tecno-global é imparável. E apesar de a forma final ainda não ser clara, é indubitável que fazemos todos parte do que está a acontecer. E, certamente que poderão existir empresas de sucesso info-excluídas, mas o maior número de empresas de sucesso serão certamente as info-incluídas.
Confesso que, da minha natureza interactiva, tenho dificuldade em abdicar das minhas redes sociais em parte da minha vida profissional. Mas julgo que falte muito pouco até o dia em que não se poderá dizer a um funcionário: as redes sociais são proibidas. Acho que existirá o dia em que todos estarão permanentemente ligados a redes que interagem, e que vão tornar cada vez mais ténue a separação entre vida privada e vida pública.
As mudanças são irreversíveis e que as redes sociais são apenas o retrato mais actual dessa mudança. Esse é o milagre das redes sociais: a força com que transformam o nosso dia-a-dia.