As relações em Angola

Esta semana já tinha falado sobre a relação que os meus amigos Angolanos têm com o corpo. Alguém até mencionou que essa natureza se aproximava muito da brasileira.

Por Bernardo Ramírez | Luanda (Angola) | 03/03/2010

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Mesmo assim, porque sempre vivi em Portugal, numa cultura mais conservadora e reservada, fico sempre um pouco surpreendido com o que ouço falar por aqui. Mas é mais que isso, não é fácil acalmar um certo preconceito, talvez de natureza católica, que me coloca sempre num misto de excitação e repulsa pelo que fazem aqui e pela forma como o fazem.

Aqui é tudo sobre o corpo, sobre o sexo, e sobre a aparência. Eles medem-se mutuamente pelo sucesso que têm, pelas mulheres ou os homens que seduzem, pelo quão apetitosos ou desejáveis são.

Mas a suportar isso ainda existe outra característica fantástica: são destemidos e não têm vergonha de dizer e fazer o que querem. E essa característica ainda é mais surpreendente para mim vindo das mulheres. Porque em Portugal as mulheres são mais discretas, mais subtis. Ou pelo menos a grande maioria delas. Mas aqui olham para os homens de frente, mandam piropos, piscam os olhos e seduzem de frente, como iguais.

Mas não há nada como um exemplo: estou a trabalhar esta semana com um colega angolano numa universidade nos arredores de Luanda. Ele ainda é um rapaz novo com vinte e poucos anos. Adora andar bem arranjado, festas, etc.

Quando estávamos a sair da cantina depois de almoçar ele diz-me assim: Não reparaste na rapariga a fazer-me olhinhos? (claro que não tinha visto nada) E de repente saí da cantina uma rapariga e vem falar com ele. Entrega-lhe um papel e ele dá-lhe o nome e o telefone dele.

Pergunto: Mas o que é isso? Ele responde que é um papel com o telefone da rapariga que lhe estava a fazer olhinhos. E realmente era. Eu não queria acreditar. E passados alguns minutos já estava ela a ligar-lhe a perguntar coisas sobre ele.

E passado dois ou três dias ela continuava a ligar. A dizer que se queria encontrar com ele, que queria estar com ele. Ele ainda lhe explicava que tinha namorada. E ela responde que isso é um problema dele.

E pronto é assim... Simples... Queres? Vais atrás.

Umas horas mais tarde estávamos todos a falar. E percebi que essa aventura meio louca em que vive o meu colega não é propriamente a norma. Ou seja, os outros homens da sala, já nos seus trinta e pouco anos de idade, já tratavam o assunto das relações de outra forma. Com mais serenidade, critério de escolha, vontade de construir uma família.

Um deles dizia: nos meus tempos mais loucos eu não fazia outra coisa, sempre mulheres e sexo e mulheres e sexo. Mas um dia comecei a perguntar-me para que me servia isso. E na realidade era apenas pelo prazer carnal de ter orgasmos. Que não servia para mais nada. E ele começou a perceber que queria mais na vida.

Não sei bem se essa será a única razão, mas fica sempre este misto de surpresa, fascínio, nojo e inveja da forma como eles olham para as relações e para o corpo. E fico sempre com a sensação que estou apenas de passagem nesta terra. Esta forma de nos relacionarmos não é para mim.
 

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Bernardo Ramírez Bernardo Ramirez nasceu en 1974 en Faro. É apaixonado pelos seres humanos e pela vida. Formou-se em Constelações Familiares e em Constelações Organizacionais. Desenvolve em parceria o projecto “ Pedagogia Sistémica” (porque o sistema escolar representa o futuro). Tem um portal onde fala das Constelações, da Comunicação e da Tecnologia. Tenta ser estudante permanente e interessa-se por temas de Desenvolvimento Humano, da Comunicação e pela Tecnologia em geral. Formou-se em Comunicação e Novas Tecnologias.