13 culherinhas numha caixinha negra

Luísa tem umha colecçom mui especial. De culherinhas. Dentro dumha caixinha forrada com veludo negro. Mostrou-mas na sua casa.

Por Séchu Sende | Compostela | 24/03/2011

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-Nom tenho demasiadas, afortunadamente. E digo afortunadamente porque cada vez que consigo umha é como se medrasse a minha tristeza... ás vezes, outras, a raiva. Já perdim a conta delas, tenho-as nesta caixinha negra, olha. Ves, som culherinhas pequenas, prateadas, todas som diferentes.

Contei-nas. Brilhavam. Havia doce culherinhas.

-Esta foi a primeira, -dixo Luísa colhendo umha-. A mim encantava-me jogar de nena com ela e um dia dixo-me minha avoa, recordo-o perfeitamente, dixo: Esta culher agora é tua. Coida-a bem e limpa-a com limóm, que é de prata. Recordo-o como se fosse hoje: Esta culher... agora é tua. Esta culher... dixo. Guardei-na como um tesouro até hoje. Despois minha avoa puxo-se a pelar umha laranja.

Luísa tem duas nenas. Umha de cinco anos, Inés, e outra de dez meses, Maruxa. Saímos dar umha volta e entramos num bar, na Rua do Príncipe. Pedimos duas cervejas. Maruxa começou a chorar no carrinho e Luísa colheu-na no colo.

- Tem fame, dixo.

Sacou um tarrinho do bolso, mostrou-lho á nena, que deixou de choromicar, e dixo-lhe:

- Hoje preparei-cho de laranja e pera.

E dixo-me a mim:

- Nunca levo culherinha no bolso.

Ergueu-se e achegou-se á barra com a nena no colo.

- Olá, poderia deixar-me umha culherinha?

A camareira dixo: Que?

- Umha culher, -repetiu Luísa..

- Que?, -repetiu a camareira. Teria uns trinta anos.

- Umha culher, repetiu.

- Eh?, repetiu a camareira.

- Umha culher, -repetiu Luísa sinalando com o dedo umha culherinha que havia sobre a barra um pouco mais alá.

- Ah!, exclamou a camareira.

Luísa voltou com a culher e dixo enfadada, indignada:

- Outra para a colecçom.

E dixo:

- É triste que haja alguém que nom te entenda no teu próprio país quando pides umha simple culher.

E dixo:

- Por isso é triste a minha colecçom, porque medra com a ignoráncia da gente... E da-me raiva.

Quando Maruxa acabou a pera com laranja e nós, as cervejas, Luísa guardou a culherinha no bolso, paguei e marchamos. Na rua Inés prendeu-se da mao de sua mai e dixo-lhe:

- Mamá, sabes, vou começar umha colecçom de garfos.

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Séchu Sende Séchu Sende, professor de língua e literatura, escritor e domador de pulgas no Galiza Pulgas Circus, a sua última obra é Animais, Editorial Através, 2010. O seu livro de relatos Made in Galiza recibiu o prémio Anxel Casal ao melhor livro do ano 2007 e foi considerado o melhor publicado em língua kurda em 2010.