Manifesto de Corcoesto

Manifesto lido no Festival contra a Mina de Corcoesto en Carvalho o 31 de maio de 2013.

Por Séchu Sende | Carballo | 03/06/2013

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Traio hoje esta rosa que cresceu

com ar puro sem arsénico nem cianuro em Corcoesto!

Um John Deere verde travalhava a terra hoje

em Corcoesto com a força da esperança, a resisténcia e a rebeldia

e olhei um manifesto a favor de vida num sinal de tráfico: STOP MINA.

 

Virgílio e Dante descobrem que nas portas do inferno

está escrito “Deixai toda esperança atrás”.

“Deixai toda esperança atrás”, podemos ler

às portas da empresa Edgewater e nas sedes do Partido Popular.

A nossa esperança hoje está hoje reunida em Corcoesto,

 

Fronte ao dilema entre o ouro e a vida,

nós luitamos contra a morte

com Nela, Bráulio, Celso, Emma, Seso, Leo e toda a gente

que está a dar passos adiante

e algo está a suceder:

O imprevissível está da nossa parte.

 

“Os homes som porcos que comem ouro”,

dizia Napoleóm.

Mas nós somos persoas

e o 90% do nosso organismo é agua,

as fontes nascem nalgum lugar dentro de nós

e tamém levamos no nosso interior o mar

desde o manancial de Baralháns ao Monte Branco.

 

O Capitalismo precisa ouro e dinheiro negro,

cianuro e políticos corrutos para respirar.

Quem nom tem um fascista na familia?

Conhecemo-los demasiado bem

e sabemos o que querem

e como funcionam os seus instrumentos:

O governo aproba 300 mil euros para as associaçons PRO-MINAS,

medo,

especulaçom, propaganda, fume

máfia e sobres, muitos sobres…

“Que pasem los antidisturbios”

“Toma otra cucharadita mas de cianuro,

es por tu bien”

e aquí nom passa nada,

como em Ghana, como em Ghana,

16 mortos em Kyekyenere numha mina de ouro

o pasado mes de abril

e eu nom quero viver numha colónia.

 

 

Isto tem que cambiar.

Hoje estamos do lado das mulheres das Encrobas

que se enfrontarom com paráguas à Guardia Civil espanhola.

Tamém formamos parte hoje da irmandade coletiva

que detivo o projeto da central nuclear de Xove,

porque a terra é nossa,

de todas as persoas e de ninguém ao mesmo tempo,

e este pedaço de planeta tocou-nos defende-lo a nós.

 

Há pouco ganhamos

a batalha contra as fumigaçons com neurotóxicos.

Hoje a roseira de Corcoesto gavea polas nossas pernas pedindo-nos ajuda.

E um John Deere trabalhava hoje a terra em Corcoesto

com a força da esperança, a resisténcia e a rebeldia

e aqui vai um abraço a toda a gente

que sofre golpes, multas, juíços, despejos,

cárcere,

por defender os nossos direitos e a vida.

 

Queremos seguir arando a terra

e com a flor da pataca faremos umha bandeira.

Queremos viver em paz, mas nom nos deixam.

Já Esopo falou sobre a verdade:

“Nom há ouro bastant para pagar a liberdade”

 

Cada nota de prensa em defensa do cianuro

é umha ameaça de morte.

Escuitade as cargas de dinamita:

som as palavras do presidente.

A defensa do espólio é umha declaraçom de guerra

E sem justiça nunca haverá paz.

 

Povo de Sipakapa, Guatemala, estamos com vós!

Gente de Halkidiki, Greça, estamos com vós!

Rosia Montana, Romania, estamos com vós!

Aratiti, Uruguai, Wirikuta e Serra Norte, em México, estamos com vós!

Estamos com vós contra as Corporaçons e a cobiça.

E nesta altura do poema aparece a palavra Soberania,

Soberania para os povos invisíveis do mundo!

 

 

Petom do Lobo, Cova Crea, Picoutos, Lampreira,

os mesmos que destruem a terra

querem fazer desaparecer os vossos nomes do mapa.

Os mesmos que agridem a biosfera

atentam contra o nosso idioma.

Aqui bem sabemos que os prados, rios e arboredas,

as fontes e regatos pequenos

defendem a nossa língua

e que a nossa língua defende a nossa terra.

Que o ouro e o cianuro nom nos separem do nosso idioma

porque a língua nos protege!

 

“Todo o ouro do mundo

non vale o que a túa pel cerca da miña”,

escreveu Maria do Cebreiro.

Todo o ouro do mundo nom vale

a saúde das nossas filhas.

E a ciéncia e o amor estám da nossa parte.

 

O capital está á procura da trabe de ouro

e da trabe de alcatrám.

O neoliberalismo quer roubar-lhe à moura

o seu peite de ouro. Mas as fadas das pedras

defendem com nós um Plan de Desenvolvimento Alternativo, ecológico

e sustentável.

Porque há alternativa e a imaginaçom está com nós

e o realismo está da nossa parte.

 

Nom estamos indefensos. Temo-nos a nós.

Vivemos em estado permanente

de defensa própria e nom temos medo.

O verdadeiro ouro está dentro da gente

e sabemos abrir caminos

com a desbroçadora do trisquel afiado,

reunir a energía coletiva das mulheres, homes

nenos e nenas que construem um presente diferente

porque o futuro nunca chega

e agora aqui estamos a criar algo

que se pode tocar com a ponta dos dedos

e somos gente trabalhadora.

Somos gente trabalhadora.

 

Eles sabem distribuír mui bem a miséria

e crem que quando o ouro fala a língua cala.

Mas ningumha gaiola de ouro pode encerrar as nossas palavras:

A morte é irreversível e a mina é a nossa ruína.

 

Na Galiza sabemos que as pombas

podem atacar o falcom e vencer,

e tamém o sabe o falcom.

Homes e mulheres em defensa da Galiza

juntos somos poderosos:

Saúde, cultura, rebeldia, cooperaçom, independéncia, liberdade:

Ar puro sem arsénico nem cianuro!

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Séchu Sende Séchu Sende, professor de língua e literatura, escritor e domador de pulgas no Galiza Pulgas Circus, a sua última obra é Animais, Editorial Através, 2010. O seu livro de relatos Made in Galiza recibiu o prémio Anxel Casal ao melhor livro do ano 2007 e foi considerado o melhor publicado em língua kurda em 2010.