Vigo: "Moramos numa cidade formosa"

Esta é a palavra-de-ordem que emprega o governo municipal para vender a sua gestão. Uma gestão que consiste ultimamente em "humanizar" a cidade com atuações de restauração de passeios (beira-rua é uma palavra inventada para substituir à castelhana "acera") e remodelação da sede do negócio televisivo gerido polo Celta de Vigo.

Por Xosé Morell | | 14/08/2014

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Os recursos económicos para fazer "formosa" Vigo, procedem dos nossos impostos e multas, como a de 200 euros que recebeu um servidor por "passar um semáforo em âmbar" na Praça de Espanha. Foi notificada uma semana antes de prescrever aos seis meses, pois o agente 294.454 que logo declarou "olhar" a "infração" não deteve a viatura como deveria por estar "num outro serviço de urgência". Na legislação atual, os agentes são probas vivas, e as administrações juizes, polo que a sua capacidade de mordida legal ou ilegal está legitimada e amparada, sendo cada vez maior a reclamação de dinheiro. Se a você lhe sobra disto, e tem ânimo sempre pode acudir a um contencioso, pagando as taxas, claro.
 
Mas não é este o principal rasgo de humanidade, limpeza e formosura que tem a cidade de Vigo. O governo municipal devota uma importante partida do orçamento (diz que a maior do Estado em proporção) a ajudas sociais para retirar da circulação e aplacar os que ficaram fora do sistema, evitando que saiam de noite dos seus buracos como se dum pesadelo de zumbis se tratar. A esquerda clássica agonizante -e também a esplendorosa de Podemos- considera que o dinheiro devotado não é suficiente. Algo têm que dizer que soe bem a quem ainda acredita no Estado como única forma de comunidade, e no capitalismo consumista como única forma de economia. A esquerda nem discute nem dá alternativas a um estado e uma economia insustentáveis e inumanas. Apenas promove manifestos contraditórios de abaixo-assinantes chamando à unidade deles (melhor para os profissionais concentrarem forças que desaparecerem), e apelando a um suposto decrescimento que pouco tem a ver com os seus programas, especialmente com o de Podemos, que diz "obligar a los bancos a dar crédito, fomentar el consumo, incrementar los salários y el nivel de empleo".
 
Em Vigo muitas empresas medraram com a energia barata graças ao controlo por parte dos oligopólios ocidentais (poder militar mediante) das fontes de energia doutros países. A energia barata impulsionou o comércio mundial, e o sistema financeiro proporcionou créditos bancários. O Estado disponibilizou para as grandes empresas terras confiscadas aos seus proprietários, ou solo proveniente de entulhar a Ria, destruindo assim um futuro rural e sustentável na nossa comarca. Favoreceu a concentração, os oligopólios, e um sistema de crédito viciado e arbitrário: fronte ao que diz a história mítica de Vigo, o privilégio do Estado e o trabalho assalariado prevaleceram aqui fronte à iniciativa privada.
 
A "formosa" Vigo retirou além de Puxeiros e do Galinheiro as indústrias e polígonos. O Porrinho, Mos, Salva-Terra e As Neves são as novas colónias. Nigrám e Gondomar as novas Marbella. Para se adaptarem aos modos de vida locais, as colônias colocam no poder corruptos e caciques -como no Porrinho- para distribuírem os postos de trabalho entre a população indígena. Por suposto, sempre com critérios pessoais bondadosos.
 
Os polígonos industriais que Vigo externaliza instalaram-se com toda a força do Estado. Na época da "purple rain" ainda utilizava primeiro o exuberante dinheiro que saía do trabalho assalariado de você. Tanto dá. O negócio de Xestur é fácil: expropria com violência a 18 ou 27 euros o metro de "inútil" monte, coloca -para as empresas, não para os vizinhos- os serviços de energia e água que tem em exclusiva ou em oligopólio, e edifica naves. Entre tudo, 150 euros o metro. Logo vende a 1.000 euros. Aqui há pastuqui para todos!! O pequeno problema é que desde que começa a queda do capitalismo em 2008 não há quem compre, e o que a Revista de Economia da Galiza (1958-1968) já profetizara como "um panorama de desolação" é a triste realidade de hoje nos novos polígonos. A conta dos seus impostos e multas... Ao redor da nossa cidade "formosa" temos um cinto de lixo que inclui cheiros letais como os da Veigadanha, e ultimamente serviços sexuais associados como a prostituição nas estradas do polígono da Granja....
 
Portanto ficou além de Vigo um panorama de desolação, e aquém uma cidade "formosa", e no entanto insustentável, pois acabará sendo também um refugalho do sistema quando Merkel cobre a dívida. Não tenho escutado que nos regalasse o dinheiro. A "formosa" Vigo -não se deixem enganar- durará os poucos anos que lhe restam ao capitalismo.
 
A era das fontes de energia barata e o consumismo já toca ao seu fim. As comunidades e pessoas de Vigo devemos já auto-organizar-nos para o futuro. No nosso território podem conviver explorações agropecuárias, pequenas e medianas empresas e lares duma maneira integrada, limpa e energeticamente sustentável na nova economia. Cada comunidade (paróquia ou bairro) deve ter o poder de decisão e a soberania política; e os partidos políticos devem contribuir com ideias ou projetos, e depois retirar-se. Não devem ser maquinarias de poder dependentes dos circuitos económicos para substituir uma "casta" por outra. Para isto, todos e todas, também os empresários e assalariados, devemos fazer parte dessas comunidades soberanas como umas pessoas mais. O qual nos sairia a fim de contas mais rendível, pois -para além de ser mais satisfatório- os custos do convívio e a liberdade são menores que os duma administração totalitária e corrupta. Especialmente, num sistema económico que (ainda que não gostemos escutar) já não tem futuro.

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Xosé Morell Nado em Vigo. Licenciado em Filologia galego-portuguesa e Hispânica. Master en Direção Comercial e Marketing pola EN Caixanova e en Direção Financeira e Contábil pola Universidade Autónoma de Barcelona. Atualmente em negócios de exportação. Padroeiro da Fundação Isla Couto. Foi Porta-voz no Parlamento da Galiza da ILP Valentim Paz Andrade para os vínculos da Galiza com a lusofonia aprovada e feita lei por unanimidade em 2013.