Discriminação de Carvalho Calero

O Dia das Letras Galegas foi instituído pola Real Academia Galega com a finalidade de homenagear àquelas pessoas que destacassem pola sua criação literária em idioma galego e pola defesa do nosso idioma. Na Lei de Normalizaç4ao Lingüística de 1983 também lhe foi reconhecido à RAG o caráter de entidade normativizadora do idioma galego, e, portanto, tem a legitimidade legal de propor a normativa ortográfica que deve reger o galego.

Por Ramón Varela | Ferrol | 03/08/2018

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Tradicionalmente a Academia defendeu uma postura reintegracionista moderada, e, consequentemente, foi partidária da aproximação ao português, mas no ano 1982, sendo presidente Garcia Sabell, num contexto de controle da Xunta por parte dos unionistas do PP, decidiu aderir à postura isolacionista do ILGA, caraterizada pola sua aproximação ao espanhol, que era a mais aceite polos sectores mais assimilados pola língua oficial do Estado e menos proativos na normalização do galego. Isto provocou que a citada normativa fosse rejeitada polos sectores tradicionalmente reintegracionistas ao que responderam os sectores oficialistas com a sua discriminação. A partir deste momento, o sector reintegracionista tem coutado o acesso à Academia Galega como membros numerários, a ser homenageados o Dia das Letras Galegas e a receber subvenções.

Reconhecendo a legitimidade normativizadora da Academia Galega, a questão está em se esta a legitima também para a exclusão dos desviantes. Pode-se negar o caráter de galego à língua utilizada polos reintegracionistas? Ë acaso mais galego Ronaldiño, castiñeiro, camiño, carballo, ... que Ronaldinho, castinheiro, caminho, carvalho...? Acaso grafando o som filologia deste modo ou como filosoxía passam a ser palavras duma língua distinta? Muitos pensamos que não e que a nossa língua está melhor protegida se se insere sem complexos no mundo galego-português que se se propícia o seu isolamento e a sua castelhanização. Não é igual o futuro duma língua falada por um milhão de pessoas que se a falam 300 milhões. Isto é o que pensava também Carvalho Calero e esse foi o motivo polo que liderou a alternativa reintegracionista, e é também, segundo todos os indícios, o motivo do seu ostracismo por parte da RAG, que, por sétima vez decidiu denegar-lhe a homenagem que merece por parte da Academia e da sociedade galega em geral. Segundo as minhas informações, prometeram-lhe em vida, proposta transmitida concretamente por Constantino Garcia González, uma grande homenagem se desistia do seu posicionamento, mas ele não aceitou.

Durante a presidência de Garcia Sabell sofriam discriminação os que defendiam posições políticas mais de esquerda, mas isto corrigiu-se com Fernández Del Riego, e, a partir deste momento são os reintegracionistas os inimigo a combater. Alguns acadêmicos mais progressistas chegaram a pedir publicamente, sem o menor rubor, que a Xunta castiga-se os desviantes. Os que nos temos dedicado ao ensino, sofremos muitas críticas, discriminações, expedientes ou ameaça de expedientes, se optávamos pola alternativa mais próxima ao português. Os inspetores de ensino normalmente não se atreviam a meter-se com nós por problemas ideológicos, mas estavam muito alerta em sufocar qualquer indício de lusismo, e os pais, se não estavam conformes com a ideologia do professor ou com as qualificações, viam uma saída se podiam denunciar pola normativa utilizada.

Os que vivemos este problema nas décadas últimas do século XX, constatamos em primeira pessoa que a norma atual foi imposta desde o poder e não houve nunca vontade nenhuma de negociação com os reintegracionistas, mas este sector está ai e não vai renunciar às suas convicções e a sua luta para que sejam assumidas as suas teses. Creio que chegou o momento de abrir um processo de negociação tendente a reconhecer como legítima também esta posição, se for preciso, em convivência com a outra, como acontece na Noruega, pois não considero que seja oportuno refundi-las fazendo uma mistura eclética de ambas, que dê como resultado um tertium quid irreconhecível. A RAG deve concentrar-se na consecução dos objetivos para os que foi fundada e desistir de qualquer discriminação a pessoas ou grupos por outros motivos. Não se pode manter por mais tempo o ostracismo para com um home tão preclaro e tão ilustre como Ricardo Carvalho Calero, uma das personalidades mais prestigiosas da Galiza da segunda metade do século XX, e de muitas valiosas personalidades que defendem a aproximação ao português. É também improcedente que estas se vejam discriminadas à hora da eleição dos membros da Academia e na recepção de subvenções dos poderes públicos. Entre todos podemos contribuir mais exitosamente à normalização do nosso idioma, que é o mais importante

Filgueira Valverde (á dereita) e Carballo Calero (ao seu carón) nun acto que tivo legar pouco despois de chegada a democracia
Filgueira Valverde (á dereita) e Carballo Calero (ao seu carón) nun acto que tivo legar pouco despois de chegada a democracia

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Ramón Varela Ramón Varela trabalhou 7 anos na empresa privada e, a seguir, sacou as oposições de agregado e catedrático de Filosofia de Bacharelato, que lhe permitiu trabalhar no ensino durante perto de 36 anos.