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Que verso tatuarias na pel?

Por admin | GC ABERTO | 03/11/2022

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Que verso tatuarias na pel? *

Malandrómena
Malandrómena

Queridas alunas e alunos do IES Marco do Cambalhom de Vila de Cruzes:

A maioria da poesia escrita e publicada no século XXI na Galiza nom está escrita para vós. Se a poesia tem como finalidade ser um “acto de comunicaçom”, muita poesia galega actual nom está pensada para comunicar-se com vós. Nom tem como objetivo chegar-vos ao coraçom, formar parte das vossas ideias ou chegar às vossas maos. 

Se o objetivo de muita da poesia atual fosse comunicar-se com vós, com os vossos pais, avoas ou vizinhas, os livros de poesia contemporánea nom estariam cheios de palavras estranhas, alheias, incomprensíveis para as vossas vidas. Nom, muitos livros publicados neste século foram escritos com outras finalidades que alguém algum dia terá que explicar. Ou talvez intentemos descobri-lo e explica-lo entre nós, entre vós, o dia menos pensado.

A poesia, em geral, nom tem como finalidade que o povo a rejeite, que lhe tenha nojo, que nom a sinta, que lhe resulte aborrecida, que nom lhe diga nada, que lhe seja indiferente ou incomprensível. A poesia ao longo da história foi criada para comunicar, e comunicar provém do latim COMMUNICARE, que significava algo assim como “ser em comum”. A poesia, em geral, sempre quixo ser um bem comum, coletivo, das persoas, do povo. 

E si, sempre houvo e há poetas incomprendidas, mesmo poetas rejeitadas e malditas. Sempre houvo e há poetas consideradas perigosas, loucas ou ninguneadas, poetas castigadas, despreçadas, castigadas. Mas nom estamos a falar dessas poetas, desses poetas...

O que quero dizer é que se muitos poemas que chegam às vossas maos vos parecem aborrecidos, estranhos e incomprensíveis, esse aborrecimento, estranheça ou incomprensom nom é responsabilidade vossa. É que há poetas que nom vos tenhem em conta à hora de escrever e, por tanto, nom lhe importa comunicar-se com vós. É a sua escolha.

Há poetas que dizem: Eu escrevo assim, se a gente nom me entende nom é problema meu. Asegurancetúrix, o bardo de Asterix e Obelix que sempre acaba pendurado dum carvalho, podia ser um desses poetas que pensam mais em si mesmas que na comunicaçom. 

Suso de Toro no Manifesto Kamikace escreveu que a literatura galega estava feita “por catro pelmas para vinte plastas”. A questom é que muitas poetas que escrevem poesia hoje em dia escrevem para leitoras habituais de poesia. Há poetas especializadas em escrever para especialistas em poesia. E há poetas que mesmo estám especializadas em escrever para outras, para outros poetas. É dizer, poucas vezes pensarom em fazer poesia para gente que nom le habitualmente poesia. 

Há muitos livros escritos com essa intençom. Para umha elite. E muitos desses livros parecem tam profundos como poços escuros nos que há que mergulhar com roupa de espeleologia e, claro, neste país há mui pouca gente com cursos de formaçom em espeleologia. Digamos que na Galiza a espeleologia nom é o deporte nacional.

Eu, que figem espeleologia algumha vez, recomendo-vo-lo. É outro mundo. Mas, se vos digo a verdade, despois de probar descobrim que a espeleologia me produce ansiedade. Tanta ansiedade como quando abro alguns livros de poesia galega contemporánea.

Todo isto nom me preocuparia se esse tipo de livros de poesia aparecessem de vez em quando. Aí vai: “Viches, tal escritora, tal escritor escreveu outro livro para poetas!”. Se fosse excepcional... 

Mas ultimamente observamos que som muitos os livros de poesia que eu nunca lhe daria como presente às minhas filhas ou vos levaria para vós às aulas, queridas alunas e alunos, ou a umha colega que nom le poesia habitualmente. 

Por sorte, há muitos livros que si, que som umha maravilha, que som extraordinários, que forom escritos para vós, para mim, para muita gente ou, como gosto eu de dizer, para o povo, que somos a gente que nos saudamos pola rua, nos bares ou numha manifestaçom. 

Nos tempos do rap, o trap, o rock, o pop, o slam, a regueifa ou a música eletrónica, há poesia que continua a encher as nossas vidas fora dos livros. Nom esqueçades isso. Fora dos livros há mais poesia que dentro dos livros. Poesia que impacta e transforma as nossas vidas. 

2. 

Hoje queria começar a explicar como é a poesia galega actual com um poema dum Homero do séc. XXI. Chama-se Peter Brea, chamam-lhe "O poeta dos lumes nas palavras", é operário no monte e no mar, DJ em vários pubs e, ademais, participa em espetáculos de Slam. Peter abre caminhos de poesia como umha roçadora Huskwarna entre as silvas. Peter, ademais, nom fai poesia para ser lida. Nom tem publicado ningum livro. É um poeta oral. A sua poesia está pensada para transmitir oralmente, audiovisualmente, em espetáculos em direto, com público.

Pedim-lhe por whatsapp um poema que vira num vídeo nas rrss e dixo-me: "Espera que tenho que passa-lo ao computador, que só o tenho escrito a mao!". E ao dia seguinte enviou-mo: 

A Luz Fandiño e a Veneranda

Esta mañán o ceo aturdía laranxa

o sol de inverno embruxaba, pero non quentaba nada

a nortada enfriaba os miolos e o nariz

que sobresaía por fora das cinco capas coas que me cubrín

subimos coa xiada branca cubrindo o camiño

baixamos desbrozadora ghasolina aceite discos

ás nove da mañán pesa dez kilos

ás once é parte do teu fígado

o índice está teso de apretar o ghatillo

e ti meditas debaixo do casco e dos protetores auditivos

brazada a brazada avanzas entre o mato

con coidado de non desbrozar o retoño do carballo 

de cortarle a caluga da raíz á xesta

de triturar un pouco máis a silva mesta

de rodear os troncos afogados de hedras

e ir liberando árbores, que moito me presta. 

Ás veces debaixo do broar da huskvarna penso que podería ser que un día

o runing fora substituído polo desbrocing tía

que todo quisque fora deixar unha zona de fraga guapa 

que á xente lle dera vergonza non limpar

non ter os valados empatenados sen máis

que a xuventude coñecera o llantén e non só a herba de namorar

que se soubera do chancro dos castiñeiros hai tempo xa

antes de que os seque todos sen volta atrás

sería tan alicinante ver Galiza sen silvas

sen o abandono que cobre as leiras das vosas fillas. 

Eu coñecín na Cruz do Incio a Veneranda

o seu nome quere dicir persoa que merece ser venerada

e nunca mellor dito para min é un ser bendito

con oitenta anos Veneranda limpa os seus soutos aghachada

dobrada pola metade arrincando a gharfallada

fento a fento, silva a silva, brote a brote

cando ensina os seus castiñeiros locen

repletos de ourizos limpos e listos para recoller

e di, ata onde está limpo... é meu

entre hectáreas e hectáreas de louza brava 

que só deixa paso polo carreiro do porco bravo

entre montes e montes abandoados 

ela coida do seu e resiste, trasna e fada. 

Volvo ó traballo o tempo anda tolo

son as dúas da tarde e loce o sol

hai un par de tres horas que no ceo lle abriron ó ghas

que se me quentou o lombo suando ó son

do vaivén das brazadas de louza que quedan a rás

apagho a máquina, ghardo as cousas e marcho

volto polo camiño monte abaixo, cuberto de esquezo e realidade

mosquéome  e penso, se arde todo, dalles igual 

e caio na conta de que é verdade

sen Luces nen Venerandas, todo isto vai ir moi mal.

3.

Despois de ler o poema e ver e ouvir o vídeo de Peter Brea num recital de slam, podemos fazer-nos estas e outras perguntas: 

A poesia escrita é menos comunicativa que a oral?

Que diferencias há entre poesia oral e escrita?

Umha cançom de Ses ou de Malandrómeda é poesia?

É menos valorada a poesia oral que a escrita?

As letras das cançons dos Resentidos que Antón Reixa publicou en livro formam parte da literatura galega?

Que sucede quando as poetas escritas transformam em oral a sua poesia?

E quando as poetas orais transformam em escrita a sua poesia?

Está sobrevalorada a poesia? 

Está sobrevalorada a poesia escrita?

Há gente que escreve poesia como terapia?

Qual é a funçom da poesia no séc. XXI?

É umha lenda urbana que se celebram recitais de poesia em festivais e pubs?

Há gente que tem medo da poesia?

É perigosa a poesia para o capitalismo?

Que é o capitalismo?

Por que há gente que pensa que o galego é umha língua mui “poética”? 

Há postureo no mundo da poesia?

Que significa “ser poeta” na Galiza atual?

A poesia ajuda a construír um país?

A poesia ajuda a clase obreira?

A poesia ajuda a viver?

Que tem de bom ler poesia?

Que é o pior da poesia?

Que é o melhor da poesia?

Que verso tatuarias na pel?

Etc.

...

* Para umha aula de Projeto Competencial de Oralidade. 3° da ESO.

Séchu Sende

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