Culpável

Todo o mundo sabia que o Carlos era a todas luzes culpável. Culpável de rachar com a inércia mental do nacionalismo monolítico introduzindo ideias pouco conhecidas como o municipalismo libertário ou o confederalismo democrático, base para uma nova era de resistência pacífica no Curdistão.

Por Joam Evans Pim | A Coruña | 02/06/2014

Comparte esta noticia
Culpável de chamar a atenção para as experiências de desobediência económica de Enric Durán, fundamentadas na não violência ativa e antagónicas com as arroutadas de colocar explosivos em caixeiros. Culpável de impulsionar uma Mancomunidade Integral Galega, germolo de uma auto-organização popular à margem do Estado, seguindo o exemplo da Cooperativa Integral Catalana. Culpável de ter criado alguns dos mais valiosos e inovadores textos jornalísticos e de ensaio das últimas décadas e que, reincidentemente, continuaram aparecendo em publicações galegas de referência. Culpável de ser uma pessoa íntegra, desinteressada, ativa, ... a casta mais perigosa dentre os inimigos do Estado, de qualquer Estado.
 
Culpável de tudo isso e muito mais, do grave delito de pensar, exprimir e traduzir à praxe uma visão de revolução não violenta sustentada na tradição do País. É isso o que o tornou inimigo do Estado, um Estado que não tem qualquer reparo em criar as ficções mais aberrantes para enfeitar o evidente estado de excepção jurídica que sustenta a sua ditadura parlamentar. O objetivo é evidente: que fiquemos caladas ou circunscritas ao pensamento e estilos de vida homologados. Satisfeitas com depositar um papelinho numa caixa cada cinco anos.
 
A resposta mais contundente é continuar, cada uma desde a sua realidade imediata, com uma insurgência não violenta sustentada nos princípios de autogestão, autossuficiência e autogoverno comunitários, retirando-lhe ao Estado o que mais precisa: a nossa complacência. O nosso campo de batalha não são as ruas da Crunha ou Madrid, mas as hortas, as leiras, as eiras, os montes, as veigas, os moinhos, os caminhos. As nossas armas não são pistolas nem explosivos, mas sementes, sachos, bois e anhos. A nossa estratégia não é a violência, mas as rogas, ajudas, malhas, foliadas, sempre com infinita determinação e paciência.
 
"Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde."
 
(Bertolt Brecht)

Comparte esta noticia
¿Gústache esta noticia?
Colabora para que sexan moitas máis activando GCplus
Que é GC plus? Achegas    icona Paypal icona VISA
¿Gústache esta noticia?
Colabora para que sexan moitas máis activando GCplus
Que é GC plus? Achegas    icona Paypal icona VISA