Um coletivo que defende exclusivamente uma língua e que fai todo o possível para a outra desaparecer não se pode denominar “bilíngue”. Bilíngue sou eu, que me podo expressar indistintamente em galego ou em castelhano, como qualquer outra pessoa do movimento normalizador. Por que teimamos em negar a nossa natureza privilegiada?
Alguém de nós nega a importância de as nossas filhas terem também uma boa competência em castelhano? Acho que não. No entanto, há outra gente que trabalha para as suas filhas não terem contacto nenhum com o galego e permitimos-lhe utilizar em exclusiva o conceito de “bilíngues”.
É o momento de esclarecermos uma série de conceitos e de tirar prejuízos. A experiência catalã demonstrou que a imersão na língua própria é o melhor sistema para evitar guetos linguísticos e para conseguir um bilinguismo real, e esta imersão deve ir acompanhada de um uso preferente polos poderes público. A nossa sociedade está programada para aprendermos tornillo, guante ou grúa (mesmo sem termos uma grande formação académica), mas para dizermos parafuso, luva ou guindaste precisamos do sistema educativo (e da lusofonia).
O bilinguismo é positivo para o funcionamento do cérebro e também nos ajuda depois a adquirirmos outras línguas. Mas tem que ser um bilinguismo real, onde as duas línguas estejam bem estabelecidas. Esse bilinguismo castelhano-inglês que vende, por exemplo, a Comunidad de Madrid, é fictício, pois o inglês não é uma língua ambiental nesse território e o estudantado madrileno vai ter uma competência nessa língua muito mais baixa do que em castelhano.
Vivemos num território onde se falam as duas línguas romances mais extensas: o galego-português e o castelhano-espanhol, meia Europa sonharia por um contexto como o nosso. Para isto continuar, é preciso reforçarmos a parte que tem mais dificuldades, que é claramente o galego. Em caso contrário, perderíamos os benefícios do bilinguismo.
Parece que toda a humanidade quer ser bilíngue exceto nós, que o somos.