Progressia celestial por cima do bem e do mal

Há uns dias, Luís Tosar afirmava que “faltam heróis para conduzir a energia que está na rua”. O ator de cinema era entrevistado num jornal digital polo papel protagonista no filme Operaçom E.

Por Carlos Morais | Compostela | 14/12/2012

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Nom só vim o filme recentemente estreado, também investim o tempo necessário para conhecer as suas opinions sobre o conflito colombiano, seguindo e consultando boa parte das dúzias de entrevistas na rádio, televisom e jornais em que o ator galego pontifica sobre umha realidade que semelha conscientemente nom querer conhecer.
 
A simpatia que sentia por ele e por algumhas das personagens que tem interpretado esvaeceu-se repetinamente polo lamentável papel que está a cumprir na hora de analisar com irresponsável ligeireza, e difundir com absoluta banalidade, erróneas e falsas conceçons sobre a brutal guerra de extermínio e de submetimento que a oligarquia colombiana declarou contra o seu povo há agora meio século. 
 
Aparentemente, o guiom do filme narra umha história verídica. Gira à volta das peripécias de um camponês colombiano, José Crisanto, a quem a insurgência entregou Emmanuel, o filho de Clara Rojas, umha política capturada polas FARC em 2002 e que fruto de umha relaçom com um combatente revolucionário ficou grávida num acampamento guerrilheiro. Perante os graves problemas de saúde que arrastava a criança, foi entregue a Crisanto para os seus cuidados. Posteriormente, o neno acabou numha instituiçom estatal em Bogotá, impossibilitando assim que a guerrilha, tal como publicamente se comprometera, pudesse entregá-lo junto com a sua mae e outra representante política, também prisioneira de guerra. Crisanto incumpriu o acordo com as FARC, mas também foi acusado de colaboraçom com a guerrilha por parte do Estado, padecendo prisom.
 
Umha realidade concreta omitida deliberadamente
A Colômbia tem mais de 5 milhons e meio de pessoas deslocadas polas políticas de roubo e saqueio de terras promovidas pola oligarquia, empregando o mastodôntico exército regular e os paramilitares controlados polo Pentágono e Israel, ocupando assim o triste primeiro lugar depois do Sudám, Iraque, Afeganistám, Somália e República Democrática do Congo. 
 
Som mais de 10 milhons o número de hectares arrebatados a camponeses e povos indígenas por umha política estatal prefeitamente planificada.
 
A Colômbia tem mais de 250 mil desaparecid@s, 175 mil pessoas executadas, cerca de 9 mil prisioneiras e prisioneiros políticos. Tem o recorde mundial de matar representantes operários, é quase 3.000 o número de sindicalistas assassinados nas últimas duas décadas. 70% da populaçom vive na miséria, sendo o primeiro país em desigualdade da América Latina. 
 
A Colômbia é umha imensa fossa comum de longos milhares de corpos mutilados, onde estám ocultos parte dos crimes cometidos pola casta oligárquica que governa um país submetido aos interesses do imperialismo ianque e de multinacionais espanholas como Repsol, Cepsa, Endesa, Union Fenosa, Telefónica ou Banco Santander. Em La Macarena, no Meta, à beira de um complexo militar, a 200 quilómetros de Bogotá, fica umha das maiores do planeta.
 
O governo Uribe e o atual governo Santos convertêrom esta imensa naçom numha gigantesca base militar norte-americana, a partir da qual os falcons de Washington tentam desesperadamente recuperar o terreno perdido polo avanço da onda bolivariana. Cumpre nom esquecer as declaraçons de Dick Cheney, vice-presidente de Bush JR: “Para controlar a Venezuela, é necessário dominar militarmente a Colômbia“.
 
Frente a esta situaçom, a meados da década dos sessenta do passado século, um punhado de camponeses dirigidos por Manuel Marulanda Vélez, com apoio do Partido Comunista, iniciárom a resistência popular, posteriormente cristalizada numha poderosa e invencível organizaçom marxista-leninista em armas denominada Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo. Pois, tal como afirmou o comandante Alfonso Cano numhas declaraçons em prol de umha saída negociada o conflito, meses antes do seu assassinato pola maquinaria militar pro-imperialista na operaçom “Odisseo” “as FARC nascemos resistindo a violência oligárquica que utiliza sistematicamente o crime político para liquidar a oposiçom democrática e revolucionária; também como resposta camponesa e popular à agressom latifundiária e terratenente que inundou de sangue os campos colombianos usurpando terra de camponeses e colonos”.
 
A Colômbia é um regime autoritário e terrorista que até o momento impossibilitou que a oposiçom popular pudesse defender pacificamente o seu projeto político. Cada vez que tentou esta via, foi literalmente massacrada. A experiência da Uniom Patriótica, na segunda metade dos oitenta, ainda está mui viva. Dous candidatos presidenciais, 8 congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 presidentes da cámara e milhares de militantes fôrom assassinados entre 1985 e inícios dos noventa, por defenderem a justiça social e a soberania nacional. Razom que explica as dificuldades de compreensom de Luis Tosar para nom entender que “nom seja fácil que a gente fale”.
 
Atualmente, esta burguesia vendepátrias assinou um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos e pretende converter o país numha imensa exploraçom mineira e agroindustrial, seguindo o modelo de economia de enclave. 
 
Existem centenas de livros, páginas web, documentários, reportagens jornalísticas, nos quais se pode contrastar todo isto. Porém, um colossal muro de silêncio e manipulaçom pretende lavar a cara de um Estado criminoso e narcotraficante, apresentando-o como umha modélica democracia parlamentar. Para citar um só exemplo que Luís Tosar deveria conhecer, há uns meses os Estados Unidos solicitárom por narcotraficante a extradiçom do ex-chefe de segurança de Álvaro Uribe, o general Maurício Santoyo.
 
A oligarquia provocou e alimenta esta guerra contra as imensas maiorias populares, que hoje a insurgência pretende superar mediante o processo de negociaçom política que está a desenvolver-se em Havana. O futuro determinará se a vitória de sentar a oligarquia a dialogar nom é mais que um novo engano da burguesia para ganhar tempo e lograr o que em 50 anos nom atingírom: dobrar os firmes princípios revolucionários, comunistas e bolivarianos das FARC-EP. Na atualidade, tal como transmitiu no mês de outubro em Oslo o comandante Iván Marquez “apoiados em simples exercícios de matemática, podemos afirmar que a guerra é insustentável para o Estado”.
 
A infámia de meter a todo o mundo no mesmo saco
Frente a esta inegável realidade, Luís Tosar adota umha posse de neutralidade e imparcialidade, situando-se por cima do bem e do mal. Nom quer admitir, e menos  reconhecer, que os povos tenhem direito à autodefesa quando som atacados. A rebeliom armada contra a opressom é um dever quanto nom existem possibilidades reais de se defender frente à exploraçom e à dominaçom.  
 
Este filme era umha magnífica oportunidade para divulgar a verdade sobre um dos conflitos políticos, sociais e armados mais submetidos à burda manipulaçom dos meios de comunicaçom burgueses, mas novamente optou-se por dar umha visom morna e maquilhada da tese oficial imposta polos que se consideram os donos do mundo.
 
O filme, dirigido polo realizador hispano-francês Miguel Courtois, e financiado por TVE e Canal + França, situa na mesma altura as duas partes em conflito: povo colombiano versus oligarquia, e as suas estruturas de defesa, intervençom e combate: guerrilhas/organizaçons populares/movimentos sociais versus exército regular/polícia/paramilitares e sicários. 
 
Nom nos pode estranhar esta atitude em quem dirigiu "El lobo" (2004) ou "GAL" (2006), desfigurando conflitos políticos em base às leituras impostas pola ideologia dominante e as necessidades comerciais. 
 
Como tampouco nos surpreende que alguém como Luís Tosar, epidermicamente solidário com aquelas causas progressistas socialmente mais assimiláveis, umha das caras mais visíveis da desaparecida Burla Negra, ex-militante e candidato do BNG às eleiçons municipais e europeias, colabore ativamente em ocultar a natureza política da guerra de guerrilhas que amplos setores do povo colombiano promovem e apoiam.
 
Nom “todos som maus”, nem “é difícil saber quem é mais mau de todos”, nem as FARC som umha “narcoguerrilha”, tal como manifestou num programa de La Sexta. Nada disso! 
 
É muito fácil, a partir de um hotel de cinco estrelas, do glamour dos platós de televisom e festivais de cinema, sentenciar com frivolidade veladas condenas das justas luitas pola libertaçom dos povos, e para nom perder esse halo de progressia meter no mesmo saco  oprimidos e opressores. 
 
Afirmar que, na Colômbia, povo em armas e exército genocida som similares, é o mesmo que considerar que a legitimidade do emprego da violência da guerrilha vietnamita era igual de condenável que os bombardeamentos com napalm do exército de ocupaçom ianque.
 
O conflito colombiano “nom é absurdo”, é a única alternativa que os setores mais avançados do povo trabalhador colombiano podem adotar frente à guerra de extermínio de umha burguesia apátrida e criminosa.
 
Há que molhar-se, nom valem as meias tintas. Gastar três milhons de euros num filme que satisfai parcialmente a oligarquia colombiana é umha lamentável contribuiçom para essas causas justas que esporadicamente Luís Tosar gosta de apoiar. 
 
Entendemos que optar claramente pola causa dos humildes e oprimidos da Colômbia nom contribui para somar méritos para ganhar outro Goya. Antes, é garantia de ficar completamente eliminado de qualquer possibilidade futura de atingir um óscar. Outra cousa é estar contra os despejos, incremento do IVA ou condenar as bravuconadas extremistas do ministro Wert.
 
Nada esperávamos nem esperamos do mundo da farándula. Numha das entrevistas aludidas, após a reproduçom de imagens da repressom da polícia espanhola, o ator luguês sai novamente pola tangente afirmando literalmente que "é mui triste que a polícia nom saiba quem é o inimigo. Um sai à rua para protestar e por cima os companheiros (Sic) polícias vam contra ti em lugar de ir contra o inimigo real. Nom sei se é que estám completamente errados ou é que, realmente, nom tenhem outra forma de fazer as cousas". Nom há pior cego que aquele que nom quer ver.
 
A Revoluçom é umha necessidade, nom umha atitude romántica
Luís Tosar afirma numha entrevista ser um romántico e que há umha “visom mui romántica dos movimentos revolucionários”. Novamente volta a confundir alhos com bugalhos. As revoluçons som processos sociais transformadores resultado objetivo de opressons, da tomada de consciência de amplas maiorias sociais, nom estéticos produtos artificiais e “idealistas” de inteletuais e artistas progressistas. A intensa guerra de classes continua na Colômbia porque nom existe outra possibilidade para o seu povo.
 
Porque, contrariamente às opinions de Luís Tosar, quando afirma que “Eu nom confio muito na inteligência coletiva. Nunca confiei. Creio que assim nom funcionamos bem”, som as massas as que constroem a sua própria história.
 
Na Colômbia nom faltam heróis para conduzir a energia que está na rua. Existem, som de carne e osso, tenhem nome e rosto, sofrem, riem, combatem, amam. A imensa maioria som centenas de milhares de anónimos ativistas, camponeses, trabalhadores, estudantes, mulheres, indígenas que luitam desde as trincheiras dos movimentos sociais, nas minas, nos campos, nas fábricas, nas universidades, nos povos e nas cidades. 
 
Outros chamárom-se Jacobo Arenas, Efraín Guzman, Mariana Paez, Raúl Reyes, Iván Ríos, Manuel Marulanda, Jorje Briceño “Mono Jojoy”, Alfonso Cano. Fam parte da Colômbia mais brava e rebelde. Da mesma que se opujo ao colonialismo espanhol durante mais de trescentos anos, e posteriormente ao Estado oligárquico crioulo.
 
Outros som conhecidos por Jesus Santrich, Rodrigo Granda, Simón Trinidad, Tanja Nijmeijer  "Alexandra", Maurício Jaramillo, Fabián Ramírez, Pablo Catatumbo, Joaquín Gómez, Iván Marquez, Timoleón Jiménez “Timochenko”. Com o seu valor e talento, a Colômbia triunfará. Graças a eles, mantém-se viva a esperança de milhons de colombianas e colombianos que desejam umha paz com justiça social e soberania nacional. 
 
Como nós nom somos dos que estamos por cima do bem e do mal. Porque sim somos dos que preferimos apanhar umha constipaçom a nom molhar-nos, sem duvidá-lo nem umha milésima de segundo tomamos partido, estamos com a Colômbia que hoje avança e, mais cedo que tarde, triunfará.

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.