Breve aproximaçom histórica ao comunismo galego. Três capítulos malogrados, mais um inconcluso.

O comunismo revolucionário galego nom se identifica com a leitura que as diversas cisons do PCE, realizam sobre a fundaçom há agora um século, do primeiro núcleo autodefinido sem complexos como comunista.

Por Carlos Morais | Santiago de Compostela | 19/04/2020

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Nom está constatada presença galega entre as dúzias de assinantes do manifesto de rutura com as Juventudes Socialistas/PSOE, e a sua transformaçom na seçom espanhola da III Internacional. Sim na fundaçom do efêmero primeiro PCOE, 13 de abril de 1921.

Embora desvertebrados, a memória militante e a historiografia acredita a existência de núcleos terceiristas dispersos em diversas comarcas da Galiza, já nos anos imediatos à vitória bolchevique. Porém, até abril de 1923 nom tem lugar o congresso constituínte do que se chamou Federaçom Comunista da Galiza, na realidade a sucursal “regional” do PCE.

Nom negamos a trascendência e significado histórico do acordo ratificado 15 de abril de 1920 na Casa do Povo de Madrid. A gênese do Partido Comunista Espanhol [nom se denominou de Espanha até o congresso de unificaçom em novembro de 1921] foi determinante para o posterior processo de recomposiçom, orientaçom e ofensiva classista do movimento operário.

Mas lamentavelmente nasceu eivado, mutilado pola concepçom centralista/espanholista do seu núcleo promotor, incapaz de incorporar na sua cosmovisom e programa político o direito de autodeterminaçom, e portanto de auto-organizaçom operária no específico quadro nacional de luita.

Hipotecados e devedores das esterilizadas tradiçons políticas do liberalismo burguês que empapou desde o seu nascimento o primigénio movimento operário, carecérom da ousadia para incorporar no seu corpus teórico-prático as leiçons da Revoluçom Bolchevique e as achegas de Lenine.

Assim como logrou corrigir os desafortunados diagnósticos iniciais sobre o rol do proletariado rural, do campesinhado pobre e dos pequenos proprietários agrícolas galegos, como parte inerente do sujeito revolucionário, as erróneas indicaçons dos assessores da III Internacional tampouco contribuírom para extirpar o vírus jacobinista instalado no cerne do partido das “cem crianças”.

Primeira tentativa frustrada em articular o comunismo galego
O ato fundacional do comunismo galego é difuso. Carecemos de umha data definida, de um lugar concreto, de umha ata de constituiçom precisa.

Podemos sintetizar em três os grandes capítulos do inacabado processo de constituiçom de um partido comunista galego.

O traumático final do efêmero período frentepopulista, impossibilitou o desenvolvimento do processo de cristalizaçom do partido comunista nacional galego, que se vinha larvando na Galiza meridional centro-oriental.

A partir de 1933/34 começa a tomar corpo a ideia de edificar um destacamento operário e campesinho com o centro de gravidade na Galiza. A intensidade que adotou a agudizaçom da luita de classes nos centros fabris e na hegemónica Galiza camponesa, unido às reivindicaçons em prol do Estatuto de Autonomia, sempre submetidas às inevitáveis leis da dialética, permitiu e facilitou “descubrir” a tangivilidade do quadro nacional secularmente negado.

O líder operário e dirigente da sucursal autótone, José Silva, seguindo a pegada dos ventos favoráveis emanados das teses oficiais da VI Congresso da Komintern [Moscovo, verao de 1928] -posteriormente debatidos e ratificados no IV Congresso do PCE [Sevilha, março de 1932]-, escrevia nesse mesmo mês e ano, na revista teórica “Bolchevismo”, um texto de grande valor histórico. Em “A revoluçom e o movimento nacionalista”, o canteiro compostelano manifestava que “nom podemos ignorar o problema das nacionalidades oprimidas e o papel que joga a luita destas minorias nacionais pola sua independência no desenvolvimento da revoluçom. [...]De ai que os interesses do movimento revolucionário da classe operária estejam ligados estreitamente ao das nacionalidades e colónias pola sua libertaçom. [...] Só tomando posiçom do lado das minorias nacionais que luitam pola sua independência, apoiando-as contra o Estado imperialista, fazemos labor revolucionária e trabalhamos pola unificaçom dos trabalhadores”.

Foi a irrepetível e excecional segunda geraçom de marxistas-leninistas ourensanos, comandados polo Benigno Álvarez -o carismático veterinário de Maceda-, acrisolada como um fabuloso cérebro coletivo, quem senta as bases da constituiçom do que teria sido o PCG se a besta fascista nom tivesse vencido no verao de 1936. Manuel Gómez del Valle, Ramón Lafuente Rodríguez, Luis Soto, Enriqueta Iglesias, Antonio Fernández Carnicero, Eduardo Villot Canal, Francisco Gayoso Frias, José Villar Lafuente, som alguns dos nomes dos bolcheviques que tinham avaliado corretamente a dimensom política da língua e cultura hegemónica no seio do povo trabalhador.

Segunda tentativa
As indeléveis greves proletárias de março e setembro de 1972, em Ferrol e Vigo respetivamente, que sacodem as profundidades dos alicerces do relativo confort atingido polo franquismo, nom só provocam a segunda grande erupçom da classe operária como sujeito potencialmente revolucionário na Galiza contemporánea. Configuram o segundo malogrado capítulo da construçom do comunismo galego.

Nesta ocasiom foi  a juventude operária do sulocidente do país, em rutura com o já daquelas desacreditado PCE, quem promove esta nova tentativa fundacional.  

Moncho Reboiras destaca como o líder natural desta valiosa geraçom que reativa o cómodo estado semiletárgico que definia a UPG daquela altura. Embora esta força política já tenha sido fundada em dous atos em 1963/1964, nom agia como partido comunista, mais bem como organizaçom patriótica galega defensora do direito de autodeterminaçom, influída polo discurso tercermundista, e centrada nas reivindicaçons de índole cultural.

Embora nas suas boas intençons optassem por dotá-la de umha linha genuinamente operária, seguindo o verniz maoista da moda imperante na altura, som incapaces de superar o discurso dimitroviano do interclassismo nacional-popular e da estratégia anticolonial.

Porém, sim a dotam dumha açom teórico-prática combativa, combinando dialeticamente o trabalho de massas com o de vanguarda, adatado às limitaçons inerentes ao quadro da clandestinidade imposto polas singulares caraterísticas da dominaçom capitalista espanhola da altura, da restauraçom da brutal ditadura burguesa resultado do triunfo fascista de 1936.

Nesta ocasiom sim contamos com documentos e textos que confirmam a vontade de construir um partido comunista nacional galego. Pois, mais alá das declaraçons, entrevistas e registos do livro biográfico de Luis Soto, ainda nom se encontrou suficiente documentaçom que constate o nível de madurez, determinaçom, correlaçom de forças e desenvolvimento desta linha patriótica, de indiscutível manufatura leninista, que se estava fraguando quatro décadas antes na sede da rua Rainha Vitória de Ourense.
A queda em combate de José Ramom Reboiras Noia em agosto de 1975, quebra e altera a concepçom e estratégia ruturista do núcleo dirigente. No posterior intenso debate interno de linhas, entre turbulências que desangram o capital militante acumulado, vence o lobby liquidacionista de professores. A mesma casta pequeno-burguesa que a dirige na atualidade.

Quatro décadas de debates, mais de formas que de conteúdos, entre cisons, abandonos e ruturas com cadência de dez anos [PGP, PCLN/FPG, MpB], transformou o sonho dumha UPG marxista e independentista que honestamente defendia Luís Soto, num inofensivo partido socialdemocrata nacional-autonomista, configurado pola maior concentraçom por m² de apparatchik e funcionariado burocrático de toda Europa Ocidental.

O fracasso em construir um genuíno partido comunista galego, quarenta anos após o início do holocausto galego, deriva principalmente da composiçom pequeno-burguesa da maioria dos seus quadros, e portanto do discurso identitário e etnicista que prevalece sobre o de classe na prática totalidade do movimento de afirmaçom nacional galego, tanto o de fasquia autonomista/nacionalista, como o claramente independentista.

Se no período da Segunda República espanhola fôrom as enormes resistências internas e incompreensons derivadas de profundas limitaçons teóricas, quem gorárom no seio do PCE aplicar a linha leninista defensora da auto-organizaçom operária nos específicos quadros nacionais de luita, mais a independência de classe e o internacionalismo proletário, com a inédita exceçom da fundaçom do PSUC em julho de 1936, neste segundo capítulo, foi ao invês.

O nacionalismo estreito centrado na obsessiva defesa “dos setores produtivos”, da procura de “peso em Madrid”, e vocaçom institucional e o fetichismo eleitoralista, desconsidera as condiçons materiais do povo trabalhador e empobrecido, e portanto as suas prioridades e mais sentidas aspiraçons.

Terceira tentativa
No olho do furacám político-ideológico derivado da implosom da URSS e posterior contraofensiva devastadora do imperialismo que ainda padecemos, tem lugar a original configuraçom do primeiro partido comunista fundado na Europa após ter sido arriada a bandeira da fouce e o martelo do Kremlin.

A fundaçom de Primeira Linha [MLN] na primavera de 1996, procurava combinar de forma criativa a dialética a equaçom classe/naçom no seio das forças que se reclamavam do marxismo. O novo comunismo revolucionário galego edifica-se em base à tese central de que numha formaçom social que padece a opressom nacional, a luita de classes adota a forma de luita de libertaçom nacional. A luita por umha Pátria Socialista deve estar dirigida pola classe trabalhadora. A emancipaçom de mais da metade da força de trabalho conforma a outra tarefa prioritária interligada às outras duas. A Revoluçom Galega deve ser pois, umha revoluçom socialista de libertaçom nacional e antipatriarcal, descartando a errónea concepçom de revoluçom etapista e progressiva, promovida polas variantes socialdemocratas de fachada “socialista”.

Embora nasça confrontada às limitaçons congénitas do soberanismo de esquerda, ao margem do essencialismo independentista anticomunista de vocaçom satelital do partido da espiral, do dimitrovismo contemplativo da altura, a inexperiência do material humano que se embarcou na configuraçom do “Comunismo galego do século XXI”, derivada da sua juventude, embora lograsse avanços teórico-práticos de envergadura, essenciais para edificar um genuíno Partido Comunista Galego Revolucionário, tampouco atingiu os seus objetivos.

As adversas condiçons subjetivas e objetivas de duas décadas de intensa atividade, condicionárom e posteriormente impossibilitárom a sua consolidaçom como embriom do partido comunista galego.

As naturais contradiçons endógenas que gera toda iniciativa coletiva, mas basicamente as inseridas artificialmente, a seródia e insuficiente introduçom no seio da classe operária, a deriva neopinheirista reintegracionista, a pouca coragem e determinaçom por construír um projeto político claramente autónomo, e umha política de alianças que hipotecou e atrasou o seu desenvolvimento organizativo, som algumhas das principais causas que provocárom a sua crise interna na primavera de 2015.

Polas inércias herdadas e as resistências internas, foi incapaz de tecer umha política de alianças ampla em base a programas avançados, estando permanentemente condicionada polas unidades estreitas com projetos de mínimos.

A implosom provocou umha regressom de décadas na acumulaçom de forças organizativas, experiências militantes, estilos de trabalho, combinaçom dialética de métodos de luita, e basicamente da mais aperfeiçoada elaboraçom teórico-prática marxista-leninista da história do comunismo galego.

Novo capítulo
Atualmente seguimos embarcados na construçom do partido comunista combatente, patriótico e revolucionário galego. Debilitados, mas com maior experiência que quando naquele 1º de maio de 1996 participamos no congresso fundacional de Primeira Linha.

Nem somos os únicos, nem tampouco os mais numerosos e nutridos destacamentos que afirmam ser embriom do necessário PCG, antítese do esperpento sucursalista promovido em 1968 pola camarilha encabeçada por Santiago Álvarez, que ainda a dia de hoje usurpa a sigla.

Mas frente à degeneraçom eurocomunista que atualmente cogoverna a Espanha postfranquista, o objetivo que perseguimos deve afastar-se de toda tentaçom de reproduzir os erros táticos e basicamente os estratégicos da longa trajetória do comunismo galego. Sintetizar o melhor dos insumos de Benigno Álvarez, Luis Soto e Moncho Reboiras fai parte do desafio visado para a toma do poder.

O antídoto frente à degeneraçom oportunista do “carrilhismo” nom é seguir instalados na fascinaçom nostálgica do capitalismo de estado soviético, nem o vamos encontrar no reformismo claudicante dos múltiplos grupos que se reivindicam seguidores de Trotski, tampouco nas diversas expressons do folclore maoista. E ainda menos podemos aguardar da socialdemocracia de fachada socialista. Mais de cem anos de constantes traiçons à luita de classes assim o constatam.

Nada disto serve para a imensa e urgente tarefa de dotar o proletariado e conjunto do povo trabalhador e empobrecido da Galiza, de umha eficaz ferramenta de combate para as necessidades históricas do presente, na fase de profunda crise do capitalismo crepuscular, acelerada pola pandemia do coronavírus.

Sem dotar-se do instrumento organizativo, do cérebro coletivo, do destacamento de vanguarda representado na vigência e atualidade do modelo leninista de partido partido comunista, a nossa classe seguirá instalada na triple derrota estratégica padecida em 1936, 1977 e 1991.

Os objetivos som tombar o regime postfranquista, recuperar a independência e soberania nacional conculcadas polo Estado espanhol e a UE, organizar a Revoluçom Socialista para edificar a República Operária. Nom reformar, “humanizar”, nem remendar o capitalismo.

E para lográ-lo devemos seguir centrando consideráveis energias na luita de ideias, continuar elaborando a alternativa que aglutine as diversas cores da rebeldia sob a centralidade da luita de classes, coordenando os combates parciais frente à disgregaçom e amorfismo postmoderno. A classe obreira é o único sujeito potencialmente revolucionário com capacidade de convocatória, coordenaçom e direçom das múltiplas rebeldias.

Mas sem depurarmos o marxismo da adulteraçom socialdemocrata da esquerdinha eleitoral, das torres de marfim académicas, sem restaurar o seu conteúdo profundamente subversivo, sem recuperarmos os seus princípios fundacionais, seguiremos ineluctavelmente condenados ao naufrágio, a seguir instalados no residualismo ou no melhor dos casos na marginalidade.

Entre enormes tempestades seguimos implicados na construçom do necessário partido comunista patriótico e internacionalista galego, sempre guiados e inspirados por Marx, Lenine e o Che, participando e promovendo espaços internacionalistas.  

Nom nos resignamos porque a nossa luita é para vencermos nesta vida, nesta terra e neste tempo.

Independência e Pátria Socialista!
Comunismo ou caos!
 

Unha imaxe de Lenin coa bandeira comunista da Unión Soviética
Unha imaxe de Lenin coa bandeira comunista da Unión Soviética

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.