Impunidade e apologia do terrorismo de Estado na TV

Ontem, coincidindo com o aniversário da constituiçom postfranquista vigorante o canal Telecinco -propriedade do grupo berlusconiano Mediaset e participado por Prisa-, iniciou a emisom da minisérie “El padre de Caín”, baseada no livro homónimo escrito por Rafael Vera, ex-Secretário de Estado para a “Segurança”.

Por Carlos Morais | Compostela | 09/12/2016

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“El padre de Caín” pretende ser um texto do género negro que relata a vida de um jovem tenente da “Benemérita” que em 1980 solicita ir para o País Basco pois ‘o Norte é o melhor destino de um membro da Guardia Civil que queira servir o seu país’. 
 
A série justifica e legitima os métodos de combate contra o movimento de libertaçom nacional basco desde a maniqueia visom das forças de ocupaçom e o ambiente viciado do macroquartel de Intxaurrondo, embora tangencialmente pretenda introduzir na figura do tenente Eloy que é possível derrotar o “terrorismo” empregando só a “lei”.
 
Rafael Vera com esta novela tam só pretendeu legitimar o terrorismo de Estado, os brutais métodos empregados polo Estado espanhol contra a subversom, que nom pudo defender nos processos judiciais aos que foi condenado como dirigente dos GAL [Grupos Antiterroristas de libertaçom], os esquadrons da morte promovidos polo governo do PSOE. 
 
A denominada guerra suja contra ETA que Felipe González em setembro deste ano lembrava na SER quando criticando os maus resultados eleitorais do PSOE nas Bascongadas afirmou "Regionalmente, nunca temos tido pior resultado no País Basco, apesar das cousas que figemos... tá, pá, pá...".
 
Quem é o autor da novela que inspira a minisérie?
Filho de um dirigente do fascista Sindicato Vertical, Rafael Vera fai parte dessa geraçom de oportunistas que se incorporou ao PSOE quando a transiçom já estava em pleno desenvolvimento, logrando a partir de 1982 umha carreira meteórica convertendo-se na principal figura do “antiterrorismo” dos Governos de Felipe González entre outubro de 1986 e janeiro de 1994. 
 
A geraçom canalha de José Barrionuevo, Amedo Fouce, Julián Sancristobal, José Luis Corcuera, Luis Roldán, o general Galindo, Ricardo García Damborenea, Miguel Planchuelo, Francisco Álvarez, Angel Vaquero, Julen Elgorriaga … a dos políticos e polícias “patriotas” que roubárom, mandárom torturar e assassinar sob a justificaçom da defesa do “Estado de direito”.
 
Carente de escrúpulos e a mais mínima ética de esquerda estivo involucrado diretamente no terrorismo de Estado polo que passou em quatro ocasions por prisom. A primeira tam só três meses, pois em 1998 foi indultado polo governo de Aznar.
 
Em 2004 o seu amigo Felipe González nom logrou que fosse novamente indultado polo conhecido como "caso dos fundos reservados", onde foi provado que se lucrou pessoalmente "em quantidades importantíssimas" e sustraiu outras quantidades a favor de terceiras pessoas, "até umha cifra global que supera os 600 milhons de pesetas", por volta duns quatro milhons de euros.
 
Em fevereiro de 2005 entrou novamente na prisom, mas em março de 2006 foi-lhe facilitado o aceso ao regime no que está permitido passar fora da cárcere cinco dias à semana, logrando em agosto o terceiro grau penitenciário polo que só tivo que submeter-se a “contróis rotineiros”.
 
Em 2007 foi condenado a pouco mais de um ano  por outro delito de malversaçom de dinheiro público [“caso dos maletins"], por ordenar que mais de 206 milhons de pesetas procedentes dos fundos reservados fossem empregados para "compensar a disminuiçom de ingressos" que supujo para os ex-polícías José Amedo e Michel Domínguez a sua entrada na prisom polo "caso GAL", com a clara intencionalidade de garantir que guardassem silêncio.
 
Rafael Vera nom só dirigiu o terrorismo de Estado, é um bandido que se enriqueceu à custa das arcas públicas, um indivíduo que nunca se arrependeu dos graves delitos cometidos. Em março de 2015 a TVE emitiu um programa no que este ex-militante do PSOE declarou que embora a denominada "guerra suja" poda ter sido um "erro legal", do "ponto de vista prático tivo o seu papel", por ter conseguido a colaboraçom francesa, polo que segundo a sua opiniom, "algumha utilidade tivo".
 
Os tribunais postfranquistas arquivárom as denúncias cursadas polo delito de enaltecimento do terrorismo e humilhaçom às vítimas.
 
Hoje desfruta do que saqueou e com total impunidade defende os métodos implementados nos “anos de chumbo” nos platós de televisom, logrando que umha cadeia de TV divulgue a sua manipulada visom sobre o conflito entre Espanha e o País Basco. 
 
A turquizaçom de Espanha 
Que um canal de televisom emita em prime time umha série com este conteúdo descreve a natureza do sistema político que padecemos, o que ontem comemorava a constituiçom da segunda restauraçom bourbónica.
 
Expreme o processo progressivo de involuçom política do regime que emprega duas varas de medir: corte de liberdades e direitos, invisibilizaçom e manipulaçom das alternativas revolucionárias, repressom brutal contra todo tipo de dissidência versus absoluta permissividade com o fascismo e o exercício de qualquer forma de terrorismo de Estado.
 
Eis o regime que alguns teimam em querer reformar empregando as suas instituiçons e as suas regras, o regime que bem sabemos só pode ser tombado mediante um processo revolucionário de libertaçom nacional dirigido pola classe operária e com um programa de genuína inspiraçom socialista.
 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.