Por Bernardo Ramírez | Lisboa | 08/04/2010
Há umas semanas atrás, quando conversava com uma das amigas que cá tenho ela dizia: "Sabes Bernardo, aprendi que o melhor é deixar a vida me levar."
Confesso que encontro nestas palavras muita sabedoria, e tento, sempre que sou capaz, seguir à letra a sabedoria que elas contêm.
Durante muito tempo tentei sempre contrariar o ritmo das coisas, ou acelerando ou desacelerando o meu próprio ritmo. Muitas vezes achava que as coisas tinham de ser quando queria. E fazia muita força para que assim fosse.
Outras vezes tentava o inverso. que as coisas acontecem mais tarde. Evitar que aquele momento ocorresse.
Isto implicava o esforço gigantesco da minha parte, e que na sua maioria, resultava sempre em frustração pelo insucesso das minhas intenções.
Vou tentar ser mais claro. Durante muito tempo eu achava por exemplo que estava na altura de mudar de emprego, ou de arranjar uma casa, ou outra coisa qualquer. E como sentia que esse era o tempo que tinha de ser, como me sentia tantas vezes pressionado pela família e pelos amigos, eu persistia, eu insistia, eu sofria e batalhava. E ainda por cima sem sucesso.
Com o passar do tempo fui percebendo que não valia a pena a arrelia, a raiva e a irritação. O tempo certo é o tempo certo.
Claro que isto não significava que devia ficar quieto no meu canto, sem fazer nada, sem me mover ou agir. Significava, e para mim ainda significa, que estamos num rio, numa correnteza, que nos leva. Mas essa correnteza que nos guia, também nos empurra e puxa. E no meio da força da vida e da nossa força temos que puxar e remar com equilíbrio. Temos de saber nos afastar das margens perigosas, dos ramos submersos, das pedras afiadas. E saber flutuar quando não há perigo e usufruir do sol na cara.
Mesmo assim, o meu lado apressado, e que os meus amigos gostam de nomear carneirão, tem uma certa pressa sempre. Por isso é um exercício permanente. Mas como um rio, a nossa vida, também é uma jornada.
Tantas vezes tenho pressa em sair daqui, tantas vezes tenho pressa em fazer isto ou aquilo, mas vou tentando deixar a vida me levar.
É como diz o Zeca Pagodinho: