Visões antagonistas

Às vezes sinto que ainda sou uma criança, que o tempo que passou não vale nada e que sei muito pouco ainda do que é viver e estar vivo.

Por Bernardo Ramírez | Lisboa | 09/05/2010

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Do que é ser adulto e trabalhar. Do que é a responsabilidade e o ser encarregue de coisas e de pessoas. Trabalho desde que tinha 14 anos. O meu primeiro trabalho foi a tirar cópias num escritório de arquitectos em frente da minha casa. Não eram cópias A4, eram daqueles enormes em máquinas que tresandavam a amoníaco. Lembro-me dos copos de leite para desintoxicar.

Muitos anos mais tarde, a trabalhar num projecto universitário de desenvolvimento de software, fui confrontado com o verdadeiro dilema institucional da minha vida. Coordenava uma equipa de 3 pessoas com quem estava todos os dias. Obviamente preocupava-me com eles e com o seu bem estar. E levava essas preocupações ao meu chefe. Mas ele, um dia,  já cansado, disse-me: Bernardo, vais ter de escolher de que lado queres estar, se dos lados dos teus funcionários, se do lado da tua empresa.

Dito assim, aquilo parecia quase uma guerra em que todos tinham de escolher lados. As pessoas ou a instituição, os interesses deles ou os interesses da instituição. Para mim não havia dúvida. Estava do lado dos meus colegas, das suas preocupações e necessidades. Era com eles que trabalhava e de alguma forma eles eram a empresa.

Serviu-me essa escolha para começar a ser marginalizado, afastado da minha posição de responsabilidade. Ao ponto que percebi que não queria trabalhar naquele sítio. E ter-me despedido. Decisão da qual por vezes ainda me arrependi. Mas que julgo definir o meu carácter.

Ontem, numa conversa com uma colega minha aqui, ela explicou-me que só havia dinheiro disponível no imediato ou para pagar os salários, ou para pagar os impostos. E que se não se pagasse os impostos teria de se pagar uma multa pesada. Para mim essa questão não se punha. Sempre os salários primeiro e depois com multa ou sem multa os impostos. Ela era da opinião contrária. Preferia uns dias de sacrifício, mas conseguir o bom trabalho de pagar os impostos a horas, não aumentar os custos da empresa.

Sei que ambas as posições são válidas. Que em muitas circunstâncias e diversas uns escolheriam uma e outros outra. Esta dicotomia pessoas/instituição, esquerda/direita, etc... não é fácil. Eles existem ambos, válidos, fortes, pertinentes. Mas a verdade é que para mim serão sempre primeiro as pessoas. E talvez também por isso não seja um homem da instituição. Apenas um homem.

Ou então terei de aprender o segredo deste mundo bipolar, A caminhar nessa ténue linha de fronteira que os divide, sem tombar para cada um dos lados, mas procurando um eterno equilíbrio.

Isto de estar VIVO exige atenção e trabalho.

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Bernardo Ramírez Bernardo Ramirez nasceu en 1974 en Faro. É apaixonado pelos seres humanos e pela vida. Formou-se em Constelações Familiares e em Constelações Organizacionais. Desenvolve em parceria o projecto “ Pedagogia Sistémica” (porque o sistema escolar representa o futuro). Tem um portal onde fala das Constelações, da Comunicação e da Tecnologia. Tenta ser estudante permanente e interessa-se por temas de Desenvolvimento Humano, da Comunicação e pela Tecnologia em geral. Formou-se em Comunicação e Novas Tecnologias.