Untamiento

Na aldeia somos seis casas, em total 31 vizinhos e vizinhas. Por fortuna seis têm menos de 10 anos. A notícia das conversas para anexionar as paróquias de Lousame à vila de Noia não surpreendeu a ninguém, mas o rechaço foi unânime. Não porque tenhamos particular apego identitário ao concelho, que não deixa de ser uma amálgama artificial de paróquias tão variopintas como Fruíme, no Vale do rio Beluso, orientado para a ria d’Arouça; ou Cambonho, que dá para a vertente norte da Serra do Barbança.

Por Iolanda Mato | Vigo | 30/06/2012

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Também não temos especial apego por uma “administração municipal” que, transplantada da estepa castelhana, se demonstra incapaz de servir uma população rural dispersa desde um “consistório” espetado inconsistentemente num cruze de caminhos às aforas da vila de Noia. Mesmo que o atual alcaide vire “pedáneo” e junto do resto da corporação mantenham os seus generosos honorários por nos “administrar” em plenário como entidade local menor, pouco pode mudar levar o caxato de mando dous quilómetros mais abaixo. Continuará sendo uma administração ideologicamente urbanita, “desenvolvimentista” e, portanto, profundamente desgaleguizadora. Basta dar um passeio por Noia para ver a profunda esquizofrenia à que submete os habitantes da contorna: foco inquestionável de senhoritização e aparências (com o consequente abandono da língua), onde a maior parte dos habitantes pareceu esquecer de propósito a sua origem rural; um rural que agora fica só para divertimento “dominguero” dos que antes sementavam o fruto que agora, paradoxalmente, dão em comprar na vila. 
 
Como tantos outros núcleos urbanos da Galiza, Noia assumiu o seu papel de foco de extorsão e aniquilação do rural. Aos seus centros de ensino secundário fomos os rapaces das paróquias de Lousame, Outes e parte de Rois. Fruto da adoutrinação estatal, chegamos falando galego e, na maior parte dos casos, saímos falando um espanhol horripilante ou um galego descastado, fazendo-se especial incidência em extirpar o “nojento sesseio”.
 
A vila de Noia mantém-se graças às pequenas aldeias que a circundam. Não é a senhora do prédio que baixa comprar uma barra de pão ultracongelado e pré-cozinhado a que faz que as padarias ou os supermercados sobrevivam; não é o senhor que compra um saquinho de alpiste o que vai permitir que as tendas do agro não fechem. É a gente da aldeia a que, for nos seus carros particulares ou no precário transporte (não público), vão gastar os seus quartos à vila. A estação de autocarros parece um armazém de comida quando acodem as carrinhas dos supermercados que levam a compra da gente da aldeia ao autocarro que vai para Chave, para Silva-Redonda ou para Vila Cova. Aos da Afeosa, porém, toca-lhes pagar o táxi, que também é de Noia. Por fortuna ou desgraça não há nem um só banco em todo Lousame, mas já tomaram conta os ladrões banqueiros assentados na vila em vender ações lixo ou preferentes, deixando muita gente sem as poupanças de toda uma vida de trabalho e sacrifício. Por não falar dos comércios agrícolas que, com o apoio das câmaras agrárias, subverteram a agricultura tradicional tornando-a refém de pesticidas e sementes modificadas. Afinal, é o rural o que mantém o decadente e moribundo espaço urbano, sanguessuga alienante da seiva que corre polas veias da Terra. 
 
As maravilhas do desenvolvimentismo urbanita, que teve entre as suas principais prescrições a construção desenfreada e o fomento do assalariado (público ou privado), fizeram de Noia um município sumido na dívida à que deve dedicar mais do 20% do seu orçamento anual. Com impostos municipais como o imposto sobre atividades económicas, imposto sobre obras, imposto sobre veículos e imposto de plusvalia, quatro vezes superiores aos de Lousame nalgum caso, e taxas desorbitadas para água, saneamento e lixo, a anexão dificilmente pode resultar prometedora para as gentes das paróquias de Vila Cova, Fruíme, Tálhara, Lousame, Tojos Outos, Lesende e Cambonho. Seica a seguir ainda viriam os da Serra d’Outes.
 
Na aldeia somos seis casas, em total 31 vizinhos e vizinhas. Até faz pouco todos foram praticamente autossuficientes, e a imensa maioria continua a precisar bem pouco de fora. A canalização da água para as casas, por exemplo, fizeram-na os vizinhos, encanando a água desde a pedra onde nasce, até as casas, fonte e lavadeiro comunitário. A mancomunidade da aldeia, hoje nominalmente só “de montes” mas imemorialmente verdadeiro órgão de soberania comunitária gerida por democracia direta, fez também há alguns anos as arquetas para essa mesma água, sem um cêntimo de dinheiro público. Agora pretendem não só aplicar um “cânon” autonómico mas em breve também taxa municipal, um humilde contributo mais para continuar a manter a casta de políticos profissionais do “untamiento”, como é popularmente conhecido, e com razão.
Por estes e muitos outros motivos é hora de reclamar o nosso direito de decidir. De dotar as nossas paróquias de órgãos decisórios, restaurando os concelhos abertos e devolvendo-lhes o poder que o estado lhes vem roubando nos últimos duzentos anos. Para decidir não só se queremos ser “noyeses” mas também os impostos que pagamos e as obras que assumimos levar adiante com eles. Sim à fusão de municípios mas não para criar “untamientos” mais grandes e opacos que sirvam apenas para continuar a extorsão ao rural. Sim aos concelhos comarcais que facilitem o desenvolvimento institucional e jurídico da democracia direta paroquial, simplificando a gestão paroquial mancomunada de serviços (reciclagem, saúde, etc.). Por isso, no domingo 1 de julho às 11:30 diremos NÃO na frente do concelho de Noia.

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