Por Iolanda Mato | Vigo | 28/11/2012
Tudo começa quando no endereço de envio devo pôr o código postal. Há formulários que nem admitem o meu código postal, o da minha paróquia, e acabo por ter que por o do município. E aí já dá para imaginar a cena da conversa com a central de onde deveria vir a encomenda.
O raio do código postal é só o começo dos problemas. Ao ver que uma encomenda não dá chegado acabo por ir á página de seguimento, onde sempre aparece qualquer erro do tipo “envio paralisado por dados incorretos”. A amável operadora da central de atendimento, que deve estar em Madrí, ou em Bogotá (quem sabe?), informa-me mais uma vez que o código postal é incorreto.
Tento explicar que o código é da paróquia, que correto. Ela pensa, sem dúvida, que eu moro numa espécie de casa paroquial e que não entendo o que é um código postal. Para facilitar, indico-lhe que o município também tem um código postal, mas informo que não é o da minha paróquia, mas o do município.
E ai chega a pergunta que ensarilha o conto: “Pero usted, ¿dónde vive?”. Respondo que vivo numa aldeia, que está numa paróquia, e também num concelho, mas que são lugares distintos. Percebo que a confusão é total. Tento explicar-lhe, como se de uma cativa se tratasse, que aqui na Galiza temos aldeias, e também paróquias, e agora até municípios e províncias, só que na realidade o nosso são as comarcas.
No fim das contas, acabo por dar-lhe à coitada da mulher o código postal do município que, mesmo não sendo o nosso, sim é do agrado do computador. Em teoria isso deveria fazer com que a encomenda chegasse na carrinha do senhor do reparto, mas é apenas o início do conto. O extravagante está por vir.
Duma vez, uma pessoa da empresa de transporte ligou-me para conhecer os dados do meu endereço, mesmo que já vêm todos bem postinhos no pacote, deixando à margem o famoso código paroquial. Como quase toda aldeia galega, há polo menos três caminhos para chegar ao destino, e descrevo-lhe todos eles com rigor e detalhe. Três ligações depois a mulher não conseguira ir para além do que ela dava em chamar “Praça do Concelho”, um cruze de caminhos com uma farmácia, um centro de saúde e cinco casas. “¿Te puedes acercar al centro a recogerlo?”. Está a 7 quilómetros da casa.
Doutra vez na que a encomenda levava já quatro dias de demora, o transportista acabou por ligar, como sempre, pedindo indicações para chegar. Quando se fez uma ideia do contexto disse que deixava para o dia seguinte. E no dia seguinte não apareceu por lá nem ligou... tampouco no terceiro. O homem acabou por chegar depois de muitas voltas e ligações espetando-me na cara, fazendo-se o brincalhão: “¡Vives en el culo del mundo!”. E deve ser.
Google opina o mesminho. O principal problema que os transportistas têm com a minha aldeia, para além do código postal, é que não aparece no GPS, nem no Google Maps, nem na Michelin. E, por mim, que assim continue a ser, que fartos estamos de que nos venham roubar os cogumelos e os pinheiros... mesmo não estando no mapa! O “Pero eso no sale en el GPS” acabou virando mantra dos transportistas com os que trato e a solução acabou sendo apontar as coordenadas, latitude e longitude, ao pé do telefone.
Agora já não respondo explicando a diferença entre uma aldeia e uma paróquia, ou em digressões históricas sobre a diferença de um concelho galego e um “pueblo”. Agora moro em xis graus, xis minutos e xis segundos de latitude norte e xis graus, xis minutos e xis segundos de longitude oeste. E até deveria funcionar, mas justo quando estava toda pronta para dar as indicações, resultou que o motorista não sabia introduzir coordenadas no GPS. Depois de várias tentativas o homem ligou desesperado dizendo que estava perdido no meio do monte. Saí pola porta e fui caminho arriba três minutos até que dei com ele. Que se lhe vai fazer?
Na verdade quando faço uma encomenda é sempre o último recurso... pois dá uma boa trabalheira e dana a autoestima. Não só há que renunciar ao código postal da paróquia e trocar o nome da aldeia por coordenadas cartográficas imaginárias, mas a cousa chega já ao pessoal. Têm-me chamado de tudo... menos Iolanda. “Buenas tardes, ¿estoy hablando con la señorita Lolanda Mato?”. A sério, conheceis alguma “Lolanda”?