Por Bernardo Ramírez | Lisboa | 20/01/2010
O local era na Bélgica, reunidos todos com a intenção de organizar um evento com estudantes de jornalismo de toda a europa em Santiago de Compostela e Lisboa. Nessa altura não conhecia quase nada sobre a Galiza, mas conhecia o meu sangue andaluz e o prazer que tinha nessa atlanticidade comum que tanto nos alegrava.
Naqueles momentos não existiam fronteiras nem ibéricas, nem europeias, e durante um ano aprendi a gostar e a amar esta estrada Lisboa - Porto - Viana do Castelo - Vigo - Pontevedra - Santiago. Ela conduzia-me a cheiros, a sons e a paladares que me levavam para lugares novos, para desafios novos e para pessoas novas. E essa descoberta é sempre tão doce.
Em Santiago descobri as ruas cheias de pessoas, os pimentos de padrão, o polvo à galega, os sorrisos e as músicas regados com sidra. Ao mesmo tempo ia evoluindo na minha carreira como aluno de comunicação social e cultural. Correu a preparação e correu o evento e tudo correu tão bem.
Afinal aquilo que nos unia era muito mais do que o que nos separava. Durante o congresso, alguns europeus mais conservadores queixavam-se das horas e da falta de pontualidade, do braulho e da confusão, mas os mais bem dispostos já perguntavam se tínhamos inventado um fuso horário novo: iberian european time.
Os meus laços com a Galiza continuaram a crescer. Cada vez mais tenho vindo a descobrir a beleza das paisagens, a simpatia das pessoas, a qualidade da comida e da bebida, e, acima de tudo, essa natureza tão humana e carinhosa de se ser galego (ou atrevo-me a dizer galaico-português).
Por isso foi com grande alegria que recebi o convite de escrever para o Galiza Confidencial. Porque gosto da indepêndencia, porque gosto da coragem, e porque gosto da simplicidade e do rigor, tudo características que tenho encontrado neste portal.
Espero que as minhas crónicas, acima de tudo, vos tragam também um pouco de Portugal e do que se passa por cá.
Não sou especialista em jornalismo, nem sou jornalista, sou um pensador-escritor que gosta das palavras, do seu som e forma e que tenta prestar atenção ao que lhe rodeia sem dar demasiada importância ao que aparece nas notícias.
Um dia disse a um amigo: escrevo por duas razões, primeiro porque gosto de escrever, e depois porque gosto que me leiam.
Continua a ser assim.