Umha greve "de corte nacionalista"?

Umha das “acusaçons” do presidente da Junta à maioritária greve do ensino deste 21 de Janeiro foi a de ser, literalmente, “de corte nacionalista”. Deixemos de parte a escassa autoridade de umha acusaçom feita polo encarregado de aplicar na Galiza a doutrina nacionalista espanhola, teorizada e actualizada, nos últimos anos, pola Fundación para el Análisis y los Estudios Sociales (FAES).

Por Maurício Castro | Ferrol | 22/01/2010

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É engraçada a teima dos nacionalistas representantes dos interesses da naçom opressora ao atribuírem tal condiçom, de maneira despectiva, só àqueles que assumimos posiçons nacionalistas no contexto de umha naçom oprimida como a galega.

Porém, nom vamos enveredar por aí. Nem sequer negaremos que tivesse um peso importante, na jornada de greve contra o Decreto do PP, o sector institucional do nacionalismo galego, politicamente ligado ao BNG.

Queremos, sim, afirmar que tanto a greve como a mobilizaçom deste histórico 21 de Janeiro fôrom, por sorte, muito mais do que isso. Para já, porque a adesom muito maioritária do professorado nos centros de ensino correspondeu a pessoal muito diverso, nom poucos espanholfalantes e em muitos casos alheios a qualquer activismo político. O PP está a conseguir o raro e discutível mérito de provocar agrupamentos muito amplos em torno de questons fundamentais que som adscrivíveis à defesa dos direitos democráticos fundamentais. A língua é um deles.

Ninguém fora dos círculos ultras em que se formárom os dirigentes do actual PP, nem sequer os sectores mais moderados desse partido, pode dar por bom o discurso fundamentalista espanhol de umha suposta “imposiçom do galego”, nem a receita ultraliberal que pretende disfarçar de livre escolha o que é umha pura prescriçom, por decreto, do lingüicídio.

Por isso a greve contou com a adesom de praticamente todos os sindicatos e, o que é mais importante, da grande maioria do alunado e do professorado, que mesmo sem ser militante da causa lingüística galega, inclusive sem ser falante habitual de galego, manifestou assim o seu enérgico protesto contra os inimigos da pluralidade lingüística.

Só até aí chega o acordo de toda a oposiçom, já que, por exemplo, nom todos concordamos com reivindicar “o consenso anterior ao 1 de Março” como soluçom aos males do galego, enquanto para a plataforma convocante esse parece ser único objectivo, e nom a necessidade de um verdadeiro programa normalizador até hoje inexistente. Haverá quem, simplesmente, mantenha umha relaçom afectiva com a língua dos nossos avós, negando-se a admitir novos passos atrás quando a situaçom do galego é já indiscutivelmente crítica.

Em definitivo, o que tanto Feijó como os media oficiais chamam “nacionalismo”, é só umha parte, nom diremos que desprezível, do amplo sentimento social que, mesmo sem reivindicar e praticar com coerência a galeguizaçom, tampouco está disposta a que lhe vendam o desaparecimento do galego como algo “natural”. Daí que a manifestaçom pudesse acabar enchendo a praça do Obradoiro, o que de facto o BNG nunca conseguiu.

Fomos independentistas, nacionalistas, autonomistas, anarquistas, pessoas progressistas e, em geral, todo o tipo de sensibilidades defensoras de direitos fundamentais como é o direito à língua as que possibilitamos reduzir à mínima expressom a actividade lectiva nos centros de ensino da Galiza neste 21 de Janeiro. Fomos também nós que situamos o idioma por cima das siglas e interesses partidistas, juntando umha multitudinária voz unitária nas ruas da nossa capital. Ainda que os três partidos parlamentares continuem depois a especular, como sempre fam, com os sentimentos e o clamor popular, esse é o grande valor das sucessivas mobilizaçons dos últimos meses.

À corrente política representada polo BNG, sendo um dos agentes políticos que estám a apostar na via reivindicativa, deveremos reconhecer-lhe, sem entrar noutras consideraçons, o acerto de fazer questom, agora sim, da defesa da língua. Só é pena que nom lhe desse o mesmo valor quando assinou o Acordo de Governo com o PSOE em 2005 e, sobretodo, nos quatro anos de pésima política lingüística que se seguírom. Nom duvido que se a política do bipartido tivesse rompido com o fraguismo nesta e noutras matérias centrais da acçom de governo, nom se teriam perdido tantos milhares de votos conscientes e o PP, em lugar dedicar-se a governar contra o galego, continuaria onde sempre deveria estar: na oposiçom.

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Mauricio Castro Maurício Castro nasceu en Ferrol en 1970. Licenciado em Filologia Galego-Portuguesa pola Universidade de Compostela, dedica-se profissionalmente à docência de Português. É autor de diferentes ensaios, sobretodo de temática lingüística e sociolingüística, como a História da Galiza em Banda Desenhada (1995), Manual de Iniciaçom à Língua Galega (1998), Galiza e a diversidade lingüística no mundo (2001), o Manual Galego de Língua e Estilo (2007) ou Galiza vencerá! (2009). Primeiro presidente da Fundaçom Artábria.