Por Bernardo Ramírez | Lisboa | 27/01/2010
Felizmente ou infelizmente os media e a internet vieram criar outro problema grave de identidade. A proximidade do mundo, a chamada aldeia global, veio aumentar a quantidade de possíveis identidades e o desejo de sermos, cada vez mais, o que vemos na TV ou o que vemos na internet. De alguma forma todos queremos ser os americanos, todos queremos ser o Jack Bauer, a Scarlett Johansson, a Oprah ou o Clooney.
Acreditamos, mesmo que na fronteira do inconsciente, que existe um país onde é tudo cor-de-rosa. Onde podemos parar o tempo para fazer o que queremos, onde toda a gente é bonita e famosa, onde toda a gente aparece nos jornais e nas revistas, onde as pessoas podem ir sempre comer fora, onde todos trabalham, têm saúde de ferro ou são tratados no Mercy Hospital pelo Dr. House.
E por isso o nosso país, a nossa região, a nossa cidade e o nosso mundo são uma treta. Infelizmente, na grande maioria, vivemos sempre o sonho de querer ser outra coisa, porque o que somos não presta ou não é suficiente. Todos queremos algo diferente. (Não é que ser melhor não seja importante e saudável,mas amar o que somos é igualmente importante.)
Esse romance distante do que podemos ser e não somos também nos leva a querer ajudar as vítimas do Katrina, do Haiti, ou qualquer outra crise e problema distante, mas sempre ignorantes da nossa vida, dos nossos vizinhos, dos nossos amigos, da nossa rua, dos inúmeros problemas e dificuldades que ocorrem tão perto de nós.
Ser galego, ou ser português, é uma honra. Vivemos em países abençoados, prósperos, cheios de gente que vive sem fome, que têm família, que não temem guerras, nem ataques terroristas, zonas geográficas cheias de boa comida e de boa gente. E passamos muito tempo sem celebrar essa felicidade.
Por isso hoje convido-vos a olhar para vocês, e para a vossa região, com alegria renovada. Procurar as coisas que vos fazem feliz e celebrar com alegria essa felicidade.
Que sejamos todos um pouco apaixonados por nós, e pelo que nos rodeia e que com isso possamos dizer: que bom é ser galego, que bom é ser português.