Rei em 1357, Dom Pedro I vingará a sua morte. Segundo narra a tradição, Pedro teria mandado desenterrar o corpo de Inês coroando-a Rainha na frente da Corte, cujos nobres se viram obrigados, sob pena de morte, a beijarem a mão da nova soberana, em efeito “Rainha depois de morta”. Os assassinos correram pior sorte. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados ainda em Portugal, sendo-lhes arrancado o coração pelo peito e pelas costas respetivamente. Diogo Lopes Pacheco, ao serviço do Rei de Castela Enrique II de Trastâmara, “O Fratricida”, conseguiu fugir à França.
Hoje, a língua galega, o português da Galiza, revive uma história similar. A fidalguia do Reino, sempre ao serviço de Castela, tramou já o seu plano para a chacina da nobre língua da Galiza. Desde há trinta anos enclausurou-a em um exílio forçado, evitando os encontros com o seu amado, o português imperante no Brasil, em Angola, em Portugal, no Timor, em Moçambique, em Macau, em São Tomé, em Cabo Verde e na Guiné, língua internacional de ciência, cultura, diplomacia e negócios.
Os amantes, irreverentes, mantiveram a sua apaixonada chama, não desistindo do seu natural ardor e afeto. Sendo inútil o afastamento, os conspiradores acordaram já o martírio da princesa indefesa para maior glória dos seus senhores. Cabe a intervenção do povo e nobres de bom coração, descobrindo os traidores antes da perpetuação do crime, ou assistir, cúmplices, a iminente tragédia. De repetir-se a história, tal vez sejamos convocados para participar do beija mão à nossa defunta língua, coroada “Rainha depois de morta”.