Rainha despois de morta?

Dona Inês de Castro, nobre galega, nasceu há mais de 600 anos nas terras da Límia. Foi amante do Infante Dom Pedro, coroado Rei de Portugal como Pedro I. Ciosos da influência da família galega dos Castro na corte de Portugal, três fidalgos portugueses - Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco - pressionaram ao pai do Infante, o Rei Dom Afonso IV, para que afastasse aos Castro tirando Dona Inês da Corte. Como consequência, é exilada em 1344 ao castelo de Albuquerque, na fronteira castelhana. Não sendo o exílio suficiente para apagar o amor de Inês e Pedro, que voltam a encontrar-se após a morte de Dona Constança, os conspiradores planejam o seu assassinato, morrendo acuitelada em janeiro de 1355.

Por Joam Evans Pim | Arteixo | 12/12/2012

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Rei em 1357, Dom Pedro I vingará a sua morte. Segundo narra a tradição, Pedro teria mandado desenterrar o corpo de Inês coroando-a Rainha na frente da Corte, cujos nobres se viram obrigados, sob pena de morte, a beijarem a mão da nova soberana, em efeito “Rainha depois de morta”. Os assassinos correram pior sorte. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados ainda em Portugal, sendo-lhes arrancado o coração pelo peito e pelas costas respetivamente. Diogo Lopes Pacheco, ao serviço do Rei de Castela Enrique II de Trastâmara, “O Fratricida”, conseguiu fugir à França.
 
Hoje, a língua galega, o português da Galiza, revive uma história similar. A fidalguia do Reino, sempre ao serviço de Castela, tramou já o seu plano para a chacina da nobre língua da Galiza. Desde há trinta anos enclausurou-a em um exílio forçado, evitando os encontros com o seu amado, o português imperante no Brasil, em Angola, em Portugal, no Timor, em Moçambique, em Macau, em São Tomé, em Cabo Verde e na Guiné, língua internacional de ciência, cultura, diplomacia e negócios.
 
Os amantes, irreverentes, mantiveram a sua apaixonada chama, não desistindo do seu natural ardor e afeto. Sendo inútil o afastamento, os conspiradores acordaram já o martírio da princesa indefesa para maior glória dos seus senhores. Cabe a intervenção do povo e nobres de bom coração, descobrindo os traidores antes da perpetuação do crime, ou assistir, cúmplices, a iminente tragédia. De repetir-se a história, tal vez sejamos convocados para participar do beija mão à nossa defunta língua, coroada “Rainha depois de morta”.

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