Galiza arde, depois de termos o pior acidente de trem na nossa lembrança

Por quem é que estamos a ser governadas/os?... Esta é a pergunta que me vem à cabeça, depois de contemplar o desastre ecológico no Monte Pindo. De chorar pelo verde a ser suplantado pelo negro.

Por Adela Figueroa | Compostela | 21/09/2013

Comparte esta noticia
Quem conheça a Costa da Morte, sabe da vida que nela lateja, admira a sua força e fica presa da sua formosura.
 
Com o fogo, lá vai a grande riqueza ambiental que o maciço do Pindo guardava. A Asociación Monte Pindo Parque Natural leva mais de três anos pedindo ser declarado Parque e protegido. Ainda, muito tempo antes, a Associaçom de Vizinhos de Quilmas e ADEGA lutam pela sua preservação. Muitas de nós temos feito inúmeros roteiros reivindicativos guiadas/os por Xosé Manuel Casais e muitos vizinhos de Quilmas, que defendiam o seu território da invasão da indústria da piscicultura. Em que o Monte Pindo todo o dominava desde a sua massa granítica cor de rosa. Uma rocha em que as raiolas de sol do solpor tinham prendido ao longo dos tempos para lhe dar essa cor do feldespato com óxido férrico.
 
A valorização das riquezas do Pindo era um argumento mais na defesa da Terra e das suas agras que corajosamente tem feito a vizinhança.
 
Lá temos conhecido vários exemplares botânicos considerados como endemismos, tal como o carvalho enano do Pindo, uma variedade de Quercus Lusitânia, ou iniciativas como a de repovoar com a cabra autóctone, ou a lenda da águia Xoana que tinha habitado, junto com uma povoaçom de águias reais no Maciço.
 
Certamente que o Monte tem ardido mais vezes. Mas o que me alerta, neste verão, é a coincidência de que tantas áreas que deveriam ser declaradas de proteção, o tenham feito agora. Como o Galinheiro, ameaçado por vários parques eólicos e por mineiria em aberto para minérios raros, a reserva da biosfera Oscos-Eu destruído já o seu ambiente de bosque mediterrâneo em plena serra do interior da Galiza, e este flagrante caso de destruição ambiental antes que fosse declarado Monte Pindo Parque Natural.
 
Este desastre, por sim só, deveria custar o posto ao governo (desgoverno) desta Xunta . Mas é que não é o único.
 
A ecologista doi-se imenso da perda de riqueza e patrimônio natural comum.
 
Mas também não posso menos que reclamar contra um Presidente que, depois do acidente de Angrois declarava que era importante sinalar que o trem que nos mandaram para aqui nunca era de Alta Velocidade. Tínhamos que dizer de Velocidade Alta, porque Espanha estava pendente dum contrato com o Brasil e isso poderia prejudicar os negócios dos Espanhóis. Ele nunca reclamou acerca da "chapuza" de trem que nos venderam e da sua insegurança. Nunca atuou como Presidente defensor dos galegos/as. A sua foi mais uma atuação de Delegado do Governo da Espanha do que Presidente da Galiza.
 
Também agora nunca o tem feito. Fechou os ouvidos às advertências. Fechou os olhos às evidências, em quanto presumia da sua "boa política" de redução de gastos, tardando em constituir as brigadas de luta contra os incêndios e , ainda mais grave, trasladou aos pobres concelhos uma parte importante da responsabilidade na contratação das quadrilhas contra os incêndios.
 
Como no caso do caminho de ferro, tarde, mal e lastrado pelos acontecimentos.
 
A realidade sempre se impõe com a sua teimosia. Depois de julho e agosto sem chover, e duma primavera viçosa , só faltava a chispa. Para tudo arder.
 
Qualquer governante tinha que ter previsto o que aconteceu. Nada diria eu se se tivessem articulado as defesas a tempo como aconselhavam os expertos.
 
Da sociedade galega muitas têm sido as reclamações acerca da falta de dispositivos de prevenção de incêndios .
 
No anos 2006, depois daqueles desastres incendiários, em que se queimaram mais de 68.000 hectares , constituíram-se dispositivos permanentes de atuação, tais como Voluntariado em Defesa do Monte Galego e brigadas que se formavam já na primavera.
 
Agora fomos vitimas da política de Terra Queimada sobre todo o anteriormente construído. O trabalho de pesquisa, de estudos e de prevenção que se tentara fazer desde o Governo bipartito foi desestimado, desprezando todo o que se tinha concluído acerca de políticas florestais e de luta de defesa do monte e da riqueza que este pode representar para a Galiza. Esta riqueza tem de ir para além dos diferentes governos. É o nosso patrimônio e tem de ser independente de quem governe.
 
Nada vale andar a botar agora a culpa aos pirómanos assassinos. Verdadeiros terroristas. Que os há, e sempre os pode haver. Há que contar com isso. E na luta contra deles toda a cidadania tem de colaborar. E bem que o demonstrou na participação que houve no Voluntariado em Defesa do Monte Galego. Neste caso, Sr Feijoo, o barato é caro, como nos ensinaram na casa.
 
Se não vai ser capaz de governar o País, Galiza, demita, e deixe fazer a outros/as.
 
Mas deixe-nos algo do nosso País. De outro modo também lhe aconselho um pouco mais de humildade. Desculpe-se agora das suas declarações após os terríveis incêndios de 2006. Reconheça que, nisso dos incêndios, como noutras muitas cousas, não se pode cuspir ao céu, porque lhe pode cair na cara. Tem de ter altura de governante e chamar a colaboração da cidadania. Não apenas para a denuncia dos criminosas/os, mas para aplicar os estudos já feitos e as experiências anteriores.
 
Levamos falando destes temas cerca de 40 anos. Nos anos 80, já tenho participado em nome de ADEGA em varias jornadas sobre incêndios em Louriçam, e voltei participar no ano 2007 nas jornadas auspiciadas pelo Conselho da Cultura galega. Sempre é a política florestal a protagonista que está por trás dos incêndios.
 
Quantos anos mais vamos continuar a falar de incêndios? Quanto mai dinheiro vamos ter que desbaldir em extinção? Quando vamos celebrar a vitória sobre deles por termos sabido aplicar todo o que esta pobre Terra leva aprendido acerca deste tema quente?
 
As causas estão de sobra analisadas, consensuadas, assumidas.
 
Já sabemos todas/os que os incêndios do verão apagam-se no inverno. Que a prevenção é mais barata e mais eficaz que apagar as chamas (ainda que lesiva para o negocio do lume).
 
Escute, Sr Presidente!!
 
Aos vizinhos, aos cientistas, aos proprietários/as florestais, aos Montes vizinhais de mão comum, aos/ás ecologistas. Tudo está já escrito. Tudo está já falado. Só falta ouvir (em querendo).
 
E, quanto antes e , por via de urgência, decrete Monte Pindo Parque Natural, e também Monte do Galinheiro, e providencie meios para a sua regeneração e conservação.
 
Já verá como nunca vai arder Galiza se se cuida dela. 
 
Artigo tamén publicado en pglingua.org

Comparte esta noticia
¿Gústache esta noticia?
Colabora para que sexan moitas máis activando GCplus
Que é GC plus? Achegas    icona Paypal icona VISA
¿Gústache esta noticia?
Colabora para que sexan moitas máis activando GCplus
Que é GC plus? Achegas    icona Paypal icona VISA
Adela Figueroa Adela Figueroa Panisse, naceu en Lugo, e viviu en Pontevedra, onde desenvolveu a maior parte do seu labor profisional. De estudante participa como vogal da Asociación Cultural O Galo( Santiago de Compostela) e mais adiante como profesora de Instituto ( é catedrática de Bioloxia e Xeoloxia) nos Movimentos de Renovación Pedagógica desde o seu inicio.Participou no 1º congreso de Movimentos de Renovación Pedagáxica de Barcelona representando á AS-PGP ás Xornadas do Ensino e a Revista O Ensino.Como representante desta última participou no Encontro da Unificaçao Ortográfica (Rio de Janeiro )convidada pola Academía de Ciências e Letras do Brasil. Foi cofundadora da ASPG, e da Revista do Ensino, da que foi Directora.Tamén participou na fundación de ADEGA. Foi colaboradora científica do Semanario A Nosa Terra durante os primeiros anos da sua andaina. Foi membro da ISSOL (Asociación internacional para a investigación da orixe da vida)e da Asociacion Española de Biotecnologia.Traballou na Universidade do Minho e no Instituto da Educaçao.Foi colaboradora do Colexio Oficial de Biólogos de Galiza e da Asociación de Ensinantes en Ciencias de Galiza( ENCIGA). Ten traballado para UNICEF no departamento de Educación para o Desenvolvimento. O Medio Ambiente e o ensino centran o seu traballo, participando activamente na normalización lingüística e cultural de Galiza,asi como o devir cultural de aquén e alem Minho. É master en Educación Ambiental pola UNED-Fundación Universidad Empresa Participou activamente na Plataforma Nunca Máis de Lugo e en ADEGA.Foi Presidenta de ADEGA entre o 2005 e 2010. Continua a traballar nesta organización como vogal . Ten publicado dous libros de poesia : “Vento de Amor ao Mar” 2005 , e “Xanela Aberta” 2008 na Editorial O Castro. Colabora coa Revista de Poesia do Concello de Lugo Xistral .