Por Adela Figueroa | Lugo | 20/09/2010
Esta defesa, baseada em normas e leis de proteção deveria gozar dum amplo consenso e cumplicidade dos respectivos agentes que integram o tecido social. De outra maneira não há muita hipótese de sucesso.Para isso é imprescindível um intenso processo de informação e Educação Ambiental e Social, mas não só: Acompanhando as potentes campanhas informativas é necessário que haja ações combinadas de prêmio e punitivas.
É impossível pensar em atitudes ambientais se não há uma forte consciência na sociedade, mas também instrumentos coercitivos que dificultem o in-cumprimento das normas. Pensemos nos sucessivos fracassos dás conferências internacionais do Clima: Cada um dos parceiros pode pensar:Se um não faz, mas fazem os outros o efeito vem ser o mesmo, logo cada um pensa que pode subtrair-se ao cumprimento dos acordos aproveitando o trabalho e o sacrifício dos demais. Isso, com certeza , aconteceu.
Só se considerarmos que a defesa do ambiente é uma ação RENTÁVEL, e que o esquecimento das leis dá natureza pode vir resultar muito cara, teremos alguma hipótese de travar a crise ambiental em que estamos submersos. Lugo nunca tivera casos de alagamentos na sua alargada historia de mais de dois mil anos. Mas, desta vez, na primavera de 2010, uma chuva potente e um urbanismo inapropriado conseguiram encher de água alguns rés-do-chão. Os alagamentos dos 2007,em Vilagarcia , Cee ou Bueu ,são a conseqüência duma política urbanística em que os rios e as beiras do mar foram cobertas de betão para aproveitamentos urbanos .
Nos processos de urbanização dever-se- iam incorporar os custos ambientais como depuração dás águas e a despesa energética implicada. Os concelhos atiram um bom benefício dás licenças urbanísticas mas, ao cobrir as superfícies, outrora de terra ou erva, por betão é provocado um déficit na fotossíntese ( Aumento dá produção de CO2 e do efeito estufa inerente), uma deficiência nos processos de autodepuração dás águas ( Aumento das despesas energéticas e econômicas em depuradoras) um aumento direto da temperatura ( ilha de calor urbana) e diminuição do abrandamento térmico ( temperaturas mais extremas).
O urbanismo descontrolado em que estamos submersos está a criar um grave deslocamento da população desde o agro ás vilas. Isto tem um grave custo social, econômico e ambiental. O abandono do agro é muito CARO (Incêndios, perda cultural perda patrimonial...). A concentração nas cidades é um engano econômico: Geração de lixo, transportes, perda de identidade, aculturação etc. Que por serem custos gerais não são contabilizados, mas colaboram com a crise econômica que estamos a viver.
Em Galiza está-se a produzir um forte desequilíbrio territorial pela concentração da riqueza na zona costeira em desvantagem com a Galiza do interior. Para compensar esta desigualdade dever-se-iam favorecer certo tipo de estruturas como uns caminhos de ferro de proximidade, eficazes, por ser este o transporte mais ecológico ( menos emissões de CO2) barato e seguro.
Não vai ser pela construção de mais auto-estradas que vamos conseguir este equilíbrio territorial. Estas têm um alto custo ambiental, na sua construção, mas também por que favorecem o uso do transporte privado e o gasto energético. É imprescindível um pacto social pelo território que vise a este como capital ambiental e social que deve ser respeitado e incrementado. A organização social galega está em franca degradação á par que o seu território. Partimos duma realidade fraquinha. Mas ainda existem células sociais que permitem ter alguma esperança de que será possível travar esta desfeita, como são organizações do gênero dos montes vizinhais de mão comum ou as associações ecologistas e culturais espalhadas por todo o País... .
A Sociedade Civil Organizada que foi quem de estruturar um movimento como Nunca Mais e de gerar um riquíssimo tecido cultural e artístico pode, em teoria, ser capaz de reagir construtivamente contra a maré de betão que nos ameaça e a ruptura do nosso território por infra-estruturas insensatas que respondem mais a ser diretamente um negócio em sim próprias, que á funcionalidade para as que foram construídas.A alternativa tem de estar na qualidade de serviços, de infra-estruturas e de ambiente para garantir qualidade de vida.
A resposta tem de passar pelo respeito a nos mesmos, na consciência de que a auto-estima é um valor em sim própria e rentável em quanto o auto- ódio que alastra a destruição do Patrimônio Natural e Cultural resulta mui caro.
Neste discurso fica implícito , imprescindível e necessário, UM PACTO SOCIAL PELO TERRITÓRIO que comprometa ás forças sociais da Galiza num grande consenso.
Mas isto não poderá ser feito pelos instrumentos que acabam de ser elaborados como as DOT(Directrices de Ordenación do Território, ainda em fase de serem aprovadas) , o POL ( Planejamento de ordenação do Litoral) ou a nova Lei do Solo que coloca a máxima responsabilidade da sua gestão nas Câmaras municipais . Estas se verão aliviar dá sua penúria econômica mercê as licencias urbanísticas e na requalificação de terras como já vem sendo repetidamente denunciado. O círculo da corrupção continua a se abrir, ainda mais outro pouco.
Vivemos num formoso território ( ainda) , A Galiza, que precisa de proteção e de compromisso, mas que também está sendo transportado pelo espaço no único Planeta habitado que conhecemos e que é responsabilidade de todos nós. De continuar este estado de coisas, as crises ambientais irão a ser cada vez mais graves incorporadas em crises econômicas . O fato de ignorá-las não faz que elas não existam. Como está a acontecer na atualidade.
Resumo da palestra oferecida na Jornada , Alternativas para uma esquerda galega em Compostela a 18 de setembro de 2010.