Carta pola liberdade de Jesús Santrich

Camarada Trichi, meu caro amigo:

Por Carlos Morais | Compostela | 19/04/2018

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Lembro com absoluta nitidez aquele lusco-fusco bolivariano, quando nos conhecimos pessoalmente na tua humilde morada transumante. Choviscava. Um aroma doce impregnava a atmósfera. Embora ainda nom te recuperaras de um desses aleivosos contratempos que acompanham a quem luita de verdade polo socialismo, passamos horas conversando. Escuitavas atentamente. E rapidamente soubem que tinhas tido a delicadeza de querer saber e aprender cousas da terra dos mil rios. 
 
Assim, tempo depois já “tatareavas” algumhas das músicas deste lugar do mundo chamado Galiza, daquele pen que te ofertara cumha imensa seleçom das nossas melhores melodias. O teu interesse polo nosso povo, pola nossa lírica, pola nossa história, presente e futuro, ainda me comove.
 
Esse dia começamos a forjar umha dessas amizades que com a naturalidade fluem, perduram e nunca se extinguem.
 
A última vez que nos vimos foi numha manhá, onde o chumbo desafiava as cores do Caribe. No quarto de Ivan, na casa do Laguito, na Cuba libertada por Fidel, sempre Castro!, falamos com franqueza. Era 19 de outubro do ano 2015. Transmitim preocupaçom, inquietude e dúvidas, muitas dúvidas, perante a iminência do acordo que estavades fechando com o governo oligárquico colombiano.
 
Com respeito e afecto tentachedes convencer-me de que todo ia sair bem. Ainda resonam nos meus ouvidos as tuas explicaçons sobre a necessidade de transitar polo caminho da negociaçom, para assim avançar nos objetivos traçados por Manuel Marulanda e Jacobo Arenas uns poucos anos antes do nosso nascimento.
 
Questionei as vossas teses, e mais tarde, já só nos dous, voltamos a falar do futuro da Revoluçom Colombiana. Compreendim muitas cousas e entendim o que veu depois.
 
Ao dia seguinte fui o teu acompanhante de cumplicidades e confidências. Nom nos voltámos a encontrar. E como bem sabias que ia ser, disentim publicamente do caminho emprendido, das decisons acordadas. Com amargura, mas sempre com respeito, nom aplaudim como figérom os oportunistas, a tua nova singradura.
 
Mas na minha escola militante ensinarom-me que nunca se abandonam camaradas e bons amigos. É nos momentos difíceis quando se submete ao veredito da verdade os vínculos de camaradagem. 
 
Eis polo que, ao contrário dos que há um par de anos apoiavam sem reservas, entre euforias desmedidas, os acordos de Havana, e hoje nom se pronunciam, solicito a tua liberdade imediata. Denuncio a montagem da DEA contra Seuxis Hernández Solarte e reclamo que queremos livre o comandante Santrich. 
 
Sei porque, após ter assassinado mais de meio centenar de farianos, a oligarquia de Colômbia, te acusa de narcotráfico seguindo as ordens do imperialismo que pretende a tua extradiçom.
 
Neste trance tam amargo quero manifestar a minha admiraçom polo narrador e o guerreiro, o reconhecimento ao músico e devoto da mais sublime beleza, ao amigo dos rios e das montanhas, ao poeta e general da guerra de guerrilhas móbil, ao debujante de pássaros e cantos, ao defensor intransigente das línguas e povos que se extinguem, o comunicador das ondas radiais rebeldes, ao conversador insaciável, ao teórico marxista, ao comunista insurgente e voraz leitor.
 
Estes dias, entre o impacto da notícia da tua captura, lembrei muitos momentos, de vagalumes e colibris, aquela noite havaneira de jazz e rum, o arrecendo de charuto, o café quente e a água fresca, a habilidade em transformar em mágico o mais banal momento, as amizades comuns, o guayoyo chileno, o Luber e os patos tolos, o “secre” Narciso, o Iván, o Pável, a “Lavacolha”, o Alírio, a Natalie, o Ricardo Téllez, a Victoria Sandino ... A tua lealdade à causa da vida e da alegria. Lembro o teu sorriso, o teu ar de dândi carismático. A facilidade de abrir caminhos e sementar novos horizontes.
 
Estamos contigo na tua greve de fame. Sei que nengumha masmorra logrará quebrar-te. Que o teu povo fará todo o possível para evitar a extradiçom. Como sei que bem sabes que na brisa da história sempre prevalecerá o exercício do direito universal à rebeliom. 
 
Juramos vencer e venceremos!
 
Forte abraço comunista galego.
 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.