Loa à hispanidade

Os políticos espanholistas não têm recato nenhum em distorcer o relato da conquista de América até limites que raiam com o ridículo e que denotam uma falta total de pudor intelectual. Pablo Casado tem afirmado que “a Hispanidade é a etapa mais brilhante da história do homem”. É sintomático que nenhum político o desacreditar publicamente por estas arroutadas totalmente sem sentido, que desautorizam publicamente como um fala barato a quem as pronuncia. É louvável que alguém pretende insuflar ânimos numa cidadania desanimada polos escândalos de corrupção em todos os estamentos da política espanhola, mas isto não se consegue com uma idealização utópica dum passado inventado para consumo interno de incautos e desinformados. Como necessitam este caldo de cultivo para tapar as próprias vergonhas, negam-se a pedir perdão pola comissão dum autêntico genocídio na América.

Por Ramón Varela | Ferrol | 21/10/2021

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Como eram os seres humanos que encontraram os espanhóis ao desembarcar em Santo Domingo? Por razões óbvias vou limitar-me a apresentar alguns textos de espanholistas razoáveis que queriam que parasse a destruição das índias. Eis como são descritas por Frei Bartolomeu das Casas: “Todas estas universas e infinitas gentes a todo gênero criou Deus os mais simples, sem maldades nem hipocrisia, obedientíssimas e fidelíssimas aos seus senhores naturais e aos cristãos a quem servem; mais humildes, mais pacientes, mais pacíficas e quietas, que há no mundo:...”. A respeito do seu status social diz Bartolomeu que são gentes que vivem contentas dentro duma situação de carência e privação. “São também gentes paupérrimas e que menos possuem nem querem possuir de bens temporais; e por isto não soberbas, não ambiciosas, não codiciosas. A sua comida é tal que, a dos santos padres no deserto não parece ter sido mais estreita nem menos deleitosa sem pobre. Os seus vestidos, comummente, são em coiros, cobertas as suas vergonhas, e quando muito se cobrem com uma manta de algodão, que será como vara e média ou duas varas de lenço em quadra. As suas camas estão acima duma esteira, e todo o mais, dormem numas como redes colgadas, que na língua da ilha Espanhola (Santo Domingo) chamavam hamacas”
 
Estas eram as gentes que seriam submetidas a grandes abusos polos espanhóis, que ávidos de riquezas e/ou poder vão ser fiéis ao dito popular de que um abusa de quem pode. O texto que segue está tomado de Frei Bartolomeu das Casas, e corresponde a um sermão pronunciado polo freire dominicano Antônio Montesinos em dezembro de 1511, correspondente ao quarto domingo de advento. Devido à enorme transcendência que podia ter foi previamente assinado por todos os freires dominicanos, e dirigido ao almirante, oficiais do rei e a todos os letrados juristas e nele apresenta-se como a voz que clama no deserto. “Esta voz diz que todos estais em pecado mortal e nele viveis e morreis, pola crueldade e tirania que usais com estas inocentes gentes. Dizei, com que direito e com que justiça tendes em tão cruel e horrível servidão aquestos índios? Com que autoridade fizestes tão detestáveis guerras a estas gentes que estavam nas suas terras mansas e pacíficas; onde tão infinitas delas, com mortes e estragos nunca ouvidos, tendes consumido? Como os tendes tão opressos e fatigados, sem dar-lhes de comer nem os curar das suas doenças, que dos excessivos trabalhos que lhes dais incorrem e se vos morrem, e por melhor dizer, os matais, por sacar e adquirir ouro cada dia? E que cuidado tendes de quem os doutrine, e conheçam ao seu Deus e criador, sejam batizados, ouçam missa, guardem as festas e domingos? Estes, não são homens? Não têm animas racionais? Não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos? Isto não entendeis? Isto não sentis? Como estais em tanta profundidade de sonho tão letárgico dormidos? Tende por certo que no estado que estais não os podeis mais salvar que os mouros ou turcos que carecem e no querem a fé de Jesus-Cristo”. Para pronunciar este discurso diante de todas as autoridades, é mester que os factos sejam totalmente irrefutáveis.  
 
Biden optou polo dia dos indígenas em vez do dia de Colón, ao que alguns retrucam que também as colonos ingleses massacraram as populações de América, mas polo menos agora em vez de loar a massacre, retificam, enquanto que os espanhóis volvem ao vómito. VIVAM OS INDÍGENAS!   

Bandeira de España na Praza de Colón. Joaquin Corchero - Europa Press - Arquivo
Bandeira de España na Praza de Colón. Joaquin Corchero - Europa Press - Arquivo
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Ramón Varela Ramón Varela trabalhou 7 anos na empresa privada e, a seguir, sacou as oposições de agregado e catedrático de Filosofia de Bacharelato, que lhe permitiu trabalhar no ensino durante perto de 36 anos.