Partidos antissistémicos funcionais para o sistema

Um dos fenómenos ligados à profunda crise de legitimidade sistémica é a eclosom de alternativas que, aparentando serem novedosas, rupturistas e mais democráticas, na realidade nom passam de fraudulentos revivals de modelos ensaiados noutros períodos históricos e coordenadas geográficas.

Por Carlos Morais | Compostela | 31/10/2014

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O capitalismo senil conta com umha dilatada e intensa bagagem de conhecimentos e experiências acumuladas na sua eficaz e exitosa implementaçom de um sistema económico de opressom, dominaçom e exploraçom que praticamente atingiu escala mundial.
 
Sabe pois que nalgumhas ocasions de caráter excecional é necessário realizar cessons, aplicar mudanças e reformas, exercitar repregamentos e mesmo ensaiar arriscadas medidas. Com elas, pretende assegurar a perpetuaçom do sistema socioeconómico em que os meios de produçom e distribuiçom som de propriedade privada, visando exclusivamente o lucro. 
 
A crise do regime pós-franquista superpom-se à crise do capitalismo global, gerando um cenário mui delicado para os donos do dinheiro e, portanto, dos titulares reais do poder político: os que mantenhem a superestrutura que suprime e nega os direitos individuais e coletivos da classe trabalhadora e da Pátria.
 
Existe um profundo desgaste dos partidos e das elites políticas tradicionais que sustentárom o tránsito controlado do franquismo para a democracia burguesa espanhola. Para assegurar a continuidade dos privilégios oligárquicos, recorre-se a recámbios funcionais para garantir, com outras formas e estilos a opressom nacional da Galiza, a exploraçom do seu povo e a dominaçom de mais de metade da força de trabalho, as mulheres.
 
Assim temos que interpretar a eclosom de múltiplas forças promovidas e financiadas polo capital financeiro, embora algumhas delas perdessem utilidade ou simplesmente fracassassem (UCD e CDS de Suárez, PRD de Miquel Roca, Coaliçom Galega, entre outras). Outras fôrom imediatamente susbtituidas por outras siglas muito mais fugazes, mas com similares objetivos, ainda que nalguns casos como a SCD de Mário Conde ou Vox nom chegassem a coalhar.
 
Porém, a situaçom excecional de enorme perda de legitimidade do bipartidarismo representado polo PP/PSOE na conjuntura mais recente, tem contribuído para que o regime prepare umha possível, mas nom desejável substituiçom de siglas e elites. Os padrons correspondem a experiências ensaiadas em latitudes da nossa área geográfica ocidental, como o Bloco de Esquerda ou o Partido Livre em Portugal, o Movimento Cinco Estrelas da Itália ou a Syriza na Grécia. 
 
Ideologicamente díspares em aparência, mas com o populismo como elemento comum, tem o seu correlato na Galiza com a constituiçom de Anova em 2012, e em Espanha com a fundaçom da UpyD de Rosa Díaz em 2007. Mais recentemente, há só uns meses, com o Podemos de Pablo Iglesias.
 
Para além das evidentes divergências e mesmo incompatibilidades políticas e ideológicas, estes três projetos compartilham diversos fios condutores.
 
No caso de Anova e de Podemos, pretendem questionar e fazer voar o cerne dos modelos organizativos praticados pola classe operária com maior ou menos sucesso, com mais ou menos erros na hora da sua aplicaçom, mas imprescindíveis para garantir seguir sendo um instrumento de luita e combate.
 
A defesa de abstratos horizontalismos e ingénuos assemblearismos que susbtituiriam os “verticalismos”, assim como a adulaçom de lideranças incontestáveis supostamente herdadas da cultura marxista-leninista, impregnada na “velha esquerda”, provoca umha enorme fascinaçom nalgumhas faixas dos setores sociais aos quais se dirigem ambas forças. 
 
A juventude dececionada e defraudada pola ausência de futuro, as camadas intermédias empobrecidades polas receitas da Troika, deixam-se arrastar por demagógicas interpretaçons da ofensiva burguesa. Tentam reduzir as dificuldades da contraofensiva operária e popular às carências e limitaçons dos modelos e ferramentas organizativas.
 
Porém, antes ou depois, a realidade sempre desmascara o oportunismo e a manipulaçom.
 
Nas últimas semanas, pudemos constatar como ruíam alguns dos fetiches promocionados por estas forças falsamente alternativas. 
 
Referimo-nos à suposta maior democracia do sistema de listas abertas sobre o proporcional e a retórica do pluralismo como um valor em si mesmo, por cima da coesom e da unidade política-ideológica. Todo isso, simplesmente implosionou quando mais de 40% da militáncia que assistiu neste outubro à II Assembleia Nacional de Anova ficou excluída da direçom.
 
Algo similar aconteceu na assembleia de Podemos, realizada em Madrid uns dias depois. Pablo Iglesias ameaça com abandonar o partido cidadao da indignaçom espanhola e dos defraudados polo regime se nom for aprovado o seu modelo organizativo. Porque agora, após meses defendendo imprecisas e calculadas ambigüidades do mais imaduro assemblearismo, promove um modelo similar ao dos partidos da casta: direçom unipessoal com capacidade para nomear “digitalmente” a executiva em base às propostas das bases.
 
E a autoritária Rosa Díaz, que leva mais de sete anos mentindo e divulgando a mais abjeta manipulaçom sobre as causas e objetivos das luitas de libertaçom nacional como método sistemático de construçom de um partido unitarista espanhol baseado no ódio. O dela é um um partido de corte fascista, que nom permite que ninguém lhe faga sombra. Se Hitler eliminou sem contemplaçons os seus rivais internos na noite das facas longas, a ex-dirigente do PSOE purgou Sosa Wagner, convertendo-o da noite para o dia no seu particular Ernst Röhm.
 
Três exemplos díspares, mas que contribuem para esclarecer a necessária desconfiança sobre os novos modelos organizativos que a burguesia quer impor no movimento popular. E que @s comunistas devemos combater sem trégua.
 
Nom nos deixemos manipular, porque o segundo passo é renunciar ao programa e objetivos proclamados. Beiras leva dous anos facilitando na Galiza a recomposiçom da enfraquecida social-democracia espanhola com o seu pacto com a IU negadora da nossa naçom e dos direitos do nosso povo.
 
E Pablo Iglesias encenou exatamente 40 anos depois um novo Congresso de Suresnes, no qual o dueto Felipe González/Alfonso Guerra purgou o PSOE republicano e rupturista. Podemos nom passa de ser a quarta pata que necessita o capitalismo hispano. O fervor espanholista proclamado, a vocaçom de ocupar a centralidade política, e a “suavizaçom” do já de por si descafeinado programa eleitoral com que concorreu às europeias de maio, permitem alertar de que, sem dúvida, mas também entre permanentes contradiçons, vai contribuir para regenerar o sistema que falsamente afirma combater.
 
Umha vez mais, nós ao nosso!.

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.