Consideraçons sobre um domingo que nom mudará o País

Nem votei, nem estou deprimido, nem abatido, nem tampouco decepcionado polos resultados eleitorais do passado domingo. Tampouco estou satisfeito e muito menos eufórico, pois umha parte do acontecido é negativo para a construçom nacional da Galiza.

Por Carlos Morais | Compostela | 26/10/2012

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A maioria absoluta do PP, o descalabro do PSOE, a aceleraçom da hemorragia eleitoral do BNG iniciada em 2001, e a espetacular entrada da AGE no parlamentinho, nom determinarám as luitas existentes, e muito menos as que ham de vir.
 
Afortunadamente, a luita de libertaçom nacional e social de género deste povo nom dependerá basicamente da aritmética eleitoral do modelo burguês de representaçom. A dilatada história da luita de classes a escala internacional tem fornecido inumeráveis exemplos da volatilidade dos comportamentos eleitorais das amplas massas.
 
A rua é, e seguirá sendo, o centro de gravidade onde se traçará o futuro da Pátria oprimida e da classe explorada. As batalhas determinantes pola nossa libertaçom, contra o projeto assimilacionista espanhol e a imposiçom das condiçons sociolaborais decimonónicas que pretende impor a burguesia, nom terám lugar no interior dos muros do antigo quartel do Hórreo, e sim nos centros de trabalho e estudo, nas avenidas e ruas deste país. Será nos combates de rua que livrarám as massas onde emerja a nova Galiza que necessitamos. 
 
Porém, perante o enorme debate e reflexom em que está inserido o conjunto da esquerda e do movimento popular, considero necessário apontar:
 
1- Ainda sem termos os resultados definitivos, à espera dos dados dos residentes no estrangeiro, a abstençom incrementou cerca de 7 pontos em relaçom a 2009. Fomos mais de 832 mil o número de galegas e galegos que optamos por nom apoiar nengumha das forças que se apresentárom. Ou seja, 150 mil mais que há quatro anos. 
 
2- A este divórcio com a casta política, há que acrecentar o importante ascenso do voto nulo (37.472) e em branco (38.410) o que representa 5.24% d@s votantes.
 
3- As duas principias forças sistémicas -PP e PSOE-, perdem 366.310 votos no seu conjunto, 135 mil o partido de Feijó e 230 mil o de Pachi Vasques. A antidemocrática Lei D’Hont e a disparatada representaçom territorial provincial, na qual Ourense, com umha populaçom um pouco superior ao grande Vigo, conta com 14 deputados, contribuem para deformar até o absurdo o poder institucional. Assim, o PP incrementa a sua maioria absoluta, embora tenha conseguido menos votos que as outras seis candidaturas mais votadas. 
 
4- Existem causas fundadas e de enorme peso para compreender que mais de 125 mil compatriotas retirassem o seu apoio o BNG.
 
5- Os 200 mil sufrágios atingidos pola AGE, somados aos 145 mil do BNG, nom recuperam os obtidos pola esquerda nacionalista há onze anos, e estám mui longe do teito eleitoral de quase 400 mil logrados em 1997.
 
6- O novo experimento de pôr em andamento um projeto político galego de centro direita voltou a fracassar estrepitosamente. 
 
Portanto, nom existem motivos para cair no desalento, nem no pessimismo. A desafetaçom popular com as forças sistémicas diretamente responsáveis polo empobrecimento da Galiza e das suas maiorias sociais, PSOE e PP,avançou de forma clara e firme, embora mais lenta do desejável.
 
Mas sim é negativo para o futuro do projeto nacional galego a importante reduçom da representaçom genuinamente galega no parlamentinho de cartom. O beirismo passará à história nacional por ter entregado gratuitamente à social-democracia espanhola 5 deputados. IU por si só nunca conseguiria este resultado na Galiza, por muito que as tendências a escala estatal constatem um deslocamento eleitoral para o partido de Cayo Lara de antigos votantes do PSOE, abstencionistas e jovens que votam pola primeira vez. Que lamentável contributo para a (des)construçom nacional!
 
Tam patética como a campanha do BNG. Tanto o seu candidato, como o conjunto das suas vozes mais destacadas ao longo dos quinze dias de campanha, caraterizárom-se por manter umha linha discursiva timorata e acomplexada, por reproduzir anodinas receitas do passado, umha suicida carência de crítica ao PSOE, umha incapacidade de compreender a radicalizaçom em curso de destacados setores populares, basicamente juvenis, que exigem um discurso e programa anticapitalista. Mas o ADN da UPG esteriliza umha viragem nesta direçom de um BNG incapaz de se adaptar à realidade, dominado por umha burocracia tam obsoleta como auto-satisfeita, nestes momentos em pánico polo ERE a que vai ser submetida.
 
Conclusom
 
Os resultados eleitorais de 21 de outubro constatam que é mais necessário e urgente que nunca que a classe obreira deste país acelere simultaneamente a construçom de um vigoroso partido comunista e um poderoso movimento popular sociopolítico enquadrado nos parámetros da esquerda revolucionária independentista.
 
A AGE nom é mais que um sucedáneo da velha esquerda domesticada. Só com peças velhas e gastas nom se fai um veículo novo. E muito menos renunciando aos princípios.
Tal como o Bloco de Esquerda português, ou a Syriza grega em que se inspirou IU à hora de pactuar com Anova, tem mais de moda passageira que de um projeto sólido e assente, emanado das luitas populares. AGE é um fenómeno vinculado às frustraçons e necessidades da pequena-burguesia urbana que arrasta setores populares carentes de referencialidade eleitoral, fascinados polo carismático verbo incendiário, mas também vazio, de Beiras. 
 
A AGE carece de musculatura organizativa, de introduçom real no mundo do Trabalho, no tecido associativo popular. Todo indica que é umha das alternativas de recomposiçom da social-democracia que o imperialismo considera para substituir a desfeita em que se acha o PSOE. 
 
Nom podemos aguardar nem confiar em giros soberanistas e à esquerda de ninguém. Há que confiar nas potencialidades das nossas modestas forças e na incomensurável energia revolucionária do nosso povo. 
Mais que nunca, a Galiza necessita de umha esquerda independentista com projeçom de massas, para organizar povo, para o acompanhar nas luitas, contribuindo para vincular os objetivos táticos com os estratégicos. 
 
Só a independência e plena soberania nacional, ligada intrinsicamente à construçom de umha sociedade socialista superadora da atual ditadura burguesa e dominaçom patriarcal, conseguirá essa sociedade que deseja a imensa maioria das pessoas que saem às ruas contra o desemprego, contra a precariedade e os baixos salários, contra o incremento de impostos, a privatizaçom da saúde e do ensino, o empobrecimento e a depauperaçom, para nom perderem as suas casas, contra a emigraçom, por um futuro digno. 
 
A Galiza tem a necessidade e o dever histórico de acompanhar a Catalunha e o País Basco no irreversível caminho face a construçom de novos Estados e, portanto, contribuir para a destruiçom do Estado imperialista espanhol.
 
O resgate de Espanha é questom de semanas. Nesse momento, atingiremos um ponto crítico polas terríveis conseqüências que provocarám as receitas da troika nas condiçons de vida das imensas maiorias. A rebeliom popular começará a ser umha alternativa à qual irremediavelmente terám que recorrer as massas.
 
O êxito da greve geral do vindouro 14 de novembro é um objetivo imediato em que devemos comprometer-nos ao máximo, para fazer avançar o desenho desse novo cenário. 
 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.